Por entre quem apresentou mais perdas, Miguel Real pode considerar-se o vencedor deste campeonato. O escritor e crítico literário, nascido em Lisboa, em 1953, fez uma análise dos quatro maiores perdedores da Literatura portuguesa: Luís de Camões, Padre António Vieira, Fernando Pessoa e Eça de Queirós.

Todos estes vultos nacionais viveram considerando-se grandes perdedores e só depois de mortos foram recuperados pelos portugueses, que os tornaram grandes vencedores.

Miguel Real explicou que Eça de Queirós não publicou nenhum romance após “Os Maias”, editado 12 anos antes da sua morte, porque o livro foi um fracasso e muito criticado por amigos, jornalistas, políticos e sociedade em geral daquela época. “Eça morreu pensando que era inferior ao Pinheiro de Chagas”, afirmou Miguel Real.

O Padre António Vieira também perdeu as suas grandes lutas de toda uma vida, foi preso e abjurou perante o inquisidor. “Perdeu tudo em vida”. O mesmo aconteceu com Luís de Camões e Fernando Pessoa.

“Todos eles quando morreram poderiam dizer «o dia em que nasci morra e pereça»”, concluiu Miguel Real.

Fernando Perdigão foi o porta-voz de Francisco Conduto de Pina, secretário de Estado da Juventude, Cultura e Desportos da Guiné-Bissau, cuja agenda demasiado preenchida não permitiu que comparecesse nesta mesa. Desde logo, Perdigão afirmou que Conduto de Pina era o grande perdedor por “não poder estar frente a uma tão nobre plateia” como esta do Correntes d’Escritas.

Na contabilização dos ganhos e perdas, segundo Francisco Conduto de Pina, há-os dos dois lados, do lado de quem escreve e do lado de quem lê: “quem escreve ganha novas emoções, novas personagens, mas perde tudo para os outros, para quem o lê; quem lê ganha emoções, desafios e novas personagens, mas perde sempre um pouco de si nessa mistura que se dilui naquilo que lê”. Ainda assim, pesando os dois lados da balança, conclui o autor guineense, “a perda de quem escreve é superior à de quem lê, mas ambos ganham muito”.

O espanhol Daniel Sánchez Pardos, nascido em 1969, admitiu que lhe pareceu muito estranho o tema proposto para a mesa de debate, remetendo-o para as suas origens de jovem desportista em Barcelona, a sua terra natal. Daniel lembrou-se daqueles tempos em que “a competição era mais importante que o prazer” de praticar desporto, em que tudo estava organizado e orientado para o resultado final, para as vitórias, se possível. O escritor é assaltado então pela analogia com a escrita. Aqui, é tudo diferente. Na Literatura, sublinhou, “encontrei um espaço que funcionava ao contrário do desporto, em que não havia equipas a competir, em que podia ter o prazer apenas de escrever sem pensar num resultado final de ganho ou perda. Foi uma descoberta absoluta!”

Daniel Sánchez Pardos referiu ter “dificuldade em associar o tema da mesa à Literatura e falar de ganhos e perdas”. Considera, porém, que podemos encontrar ganhos na vida de um escritor, quando este começa a afirmar-se, como, por exemplo, quando consegue publicar ou quando chega aos tops com a sua obra. Mas o escritor não consegue encontrar perdas na Literatura.

Acompanhe o 17º Correntes d’Escritas no portal municipal e no facebook Correntes, onde pode consultar o programa completo do evento, ver as fotogalerias e ler todas as notícias.