Pela primeira vez na Escola Secundária Rocha Peixoto, explicou Noel Miranda do Conselho Diretivo, foi colocado um tema a este tipo de sessões: “Sonho palavras clandestinas quando escrevo”. Porém, o mote poderia ter sido outro qualquer, porque o “mais interessante nestas coisas é fugirmos às questões”, como referiu Rui Zink, logo a seguir sublinhado pela Ana Margarida Carvalho.

A escritora aproveitou para elogiar a performance dos alunos e professores anteriormente apresentada com canções e dança (pelo grupo RP Dancers): “gostei muito de vos ver, gostei da vossa apresentação, aproveito para vos dizer que este é o melhor tempo da vossa vida, aproveitem bem, porque depois a parte mais chata vem quando nos tornamos adultos, altura em que conhecemos pessoas silenciosas, cinzentas e muito chatas”.

Rui Zink também elogiou a apresentação dos alunos e, focando-se no número de dança, afirmou que foi uma espécie de introdução para o que “vinha a seguir”. É o que o escritor e leitor fazem, dançar, “mas sentados”…

Respondendo a algumas perguntas dos jovens sobre o tema proposto, Rui Zink afirmou que “quando se escreve não se sabe para onde se vai, mas quando se publica já convém saber. As palavras são partilhadas por grupos de pessoas, mas a criatividade está na forma como organizamos as palavras, a ordem pela qual as colocamos no texto.”

Daniel Munduruku apresentou-se como um “indígena do povo Munduruku”, que vive na floresta Amazónica, com 15 mil pessoas a falar o mesmo idioma e que já existia antes da colonização, isto é, tem 300 anos de contacto com o dito povo brasileiro. O escritor afirmou ser “uma honra” estar presente no Correntes d’Escritas e numa sessão com os alunos, tendo em conta a sua formação e opção de vida de ser educador.

O autor de 50 livros de histórias, com base na Amazónia e no seu povo, falou da sua infância na floresta e da experiência de exclusão aquando da sua ida para a escola secundária, com 15 anos de idade, altura em que, na sua tribo, passaria para o patamar dos adultos e teria que casar e ter filhos. Na escola chamavam-me “feio, preguiçoso e inútil”, porque havia esse preconceito de que “índio” era sinónimo de algo “ruim”.

Daniel escolheu aprender mais e quando foi para a Universidade descobriu a escrita, “descobri que podia contar as histórias do meu povo ajudando assim as pessoas a conhecerem melhor a cultura dos ditos povos brasileiros”.

“A diversidade no Brasil é desconhecida pelos próprios brasileiros – no séc. XVI havia mais de mil tribos com mais de 1200 línguas diferentes; hoje ainda existem 318 povos com mais de 300 línguas diferentes e cerca de 200 grupos que nunca entraram em contacto com outros povos ou sociedades”, enumerou Daniel Munduruku.

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