Cavaleiro Andante (1983) é o quarto livro da “Tetralogia Lusitana”, de Almeida Faria, e que também inclui os títulos A paixão (1965), Cortes (1978) e Lusitânia (1980).

O último volume da Tetralogia Lusitana, em edição revista pelo autor, chegou às livrarias há poucos dias. Esta edição conta com um prefácio de Eduardo Lourenço, um texto de Hélia Correia e inclui, ainda, nova correspondência entre duas das suas principais personagens: uma carta escrita por João Carlos a Marta, dez anos depois, e um email de Marta a João Carlos, com data de 1 de janeiro de 2015.

Sobre este assunto, Almeida Faria explicou que “conseguiria escrever sobre as minhas personagens para sempre. Tenho uma paixão incomensurável por elas”.

Em Cavaleiro Andante, o tema do amor dá lugar às questões sociais que permeiam todas as obras da Tetralogia Lusitana de Almeida Faria. Ainda que existam os pares Francisco e Marina, André e Sónia, JC e Marta, Arminda e Samuel, o conteúdo das missivas, dos monólogos, dos sonhos e dos trechos de diário contemplam dramas pessoais sempre ligados ao processo histórico em questão.

As personagens dos livros não são cópia da sua própria família: “tinha vários modelos, podiam ser várias famílias. A ficção é fruto da observação das pessoas à nossa volta. Neste caso específico, houve logo a tendência para identificar os meus irmãos com alguns dos irmãos no romance, até que um deles disse: ”vocês ainda não perceberam que todas as personagens são ele”. O que em parte é verdade, em todas há alguma coisa de mim; até nas personagens femininas, talvez porque sempre senti grande empatia pelas mulheres. Naquela sociedade semifeudal eram elas as mais silenciadas e exploradas, sobretudo as então chamadas ”criadas”.

O teatro é uma das paixões de Almeida Faria: “escrever teatro também significa preencher um vazio, pois Portugal não tem uma tradição teatral por causa, primeiro, da Inquisição, e depois por causa da polícia política. A falta de cultura e, logo, de público, torna inglório escrever para tão pouca gente. E os editores detestam publicar teatro, porque não vende. O teatro dá a ouvir esses monólogos que, ditos por bons atores, podem provocar um espanto ainda maior e dar um prazer acrescentado”.