A Obsessão da Portugalidade de Onésimo Teotónio Almeida e O Paraíso de Paula de Sousa Lima foram as obras apresentadas.

 

A Obsessão da Portugalidade

Com enorme frequência surgem livros com Portugal no título, interrogando-se sobre quem somos, porque somos assim, ou como modernizar Portugal sem abandonar o seu passado, elaborando diagnósticos do País, apontando-lhe as mazelas e sugerindo-lhe medicação. O presente livro não pretende fazer nenhum diagnóstico nem oferecer uma receita. Ele resulta de uma leitura do destino da nossa cultura e daquilo que, após o 25 de Abril, se vulgarizou apelidar «a questão da identidade nacional». Em resumo, os pensadores portugueses que procuraram refletir o País deparavam-se com um problema a necessitar de explicação: como passou Portugal do glorioso empreendimento dos Descobrimentos para séculos seguidos de letargia? O Portugal real, autêntico, era o de Quinhentos, ou o que tão prolongadamente se seguiu? Como podemos encarar o futuro com tanto passado atrás de nós ainda por resolver?

Muitos intelectuais, bem como muitos cientistas sociais, ignorarão esta questão da identidade. Ela não deixará de existir, por mais que se lhe fechem os olhos. Poderá mudar de nome – e talvez até conviesse. Todavia, ainda que mude de nome, não deixará de existir.

 

O Paraíso

Com o rei D. Carlos ao leme da nação, os habitantes de uma recôndita aldeia portuguesa dispõem-se a castigar, certa noite, os praticantes de um pecado hediondo, deitando fogo à sua casa na orla de uma floresta paradisíaca. E é tal a sanha coletiva contra os pecadores que – salvo os que ainda não andam e os que já não conseguem andar – só duas pessoas na povoação inteira não participam do massacre: Ana, a parteira, e o padre Engrácio. Conseguindo adiantar-se ao morticínio, resgatam com vida um par de gémeos recém-nascidos, batizados nessa mesma noite com os nomes de Laura e Lourenço Duchamp.

Recebidas em orfanatos distintos, as crianças crescerão sob o signo da tristeza, da violência e da solidão, sempre carentes da alma gémea que desconhecem ter, enquanto na aldeia, à medida que os anos passam, a culpa vai consumindo, um por um, os criminosos. Ana, que não pode ter filhos, nunca deixa, porém, de se perguntar pelos meninos que salvou, ignorando, como eles, que o reencontro é sempre uma possibilidade.

Numa linguagem cuidada e bela e um leque de personagens fascinante, Paula de Sousa Lima constrói em O Paraíso uma narrativa pungente sobre o preconceito, o arrependimento e a incapacidade de fugir ao destino.

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