Foi desta forma que Aurelino Costa falou sobre o jovem poveiro, estudante de Direito na Universidade do Porto, que lançou Queda livre no passado sábado, no Diana Bar.

“Vivemos o que é banal e, portanto, somos o que é banal. Perdemos a beleza, a vida apaixonada e o amor, perdemos o espanto e a ingenuidade do olhar, a sensibilidade do pensar e a liberdade de o fazer. Habitamos o reino do híper, do ultrassensível, à medida da fruição imediata e do consumo da aparência num espetáculo de existir contemporâneo, em todo o seu esplendor de aparência e diluição como fogo de artifício que é. A questão é: quando é que deixámos de ser sujeitos e passámos a ser sujeitados? Vivemos uma vida sem paixão e sem beleza, numa total imersão no vazio e na distopia, com tudo o que isso implica. Por isso proferimos a grande recusa. A recusa em ser sujeitado. Com isso escolhemos a angústia e desvelamos o que houver para ver: Apatia face ao relativismo axiológico e à recusa de Deus; hedonismo, que opera como elixir soporífero da angústia e da escolha, introduzido como novo principio moral; sedução, como nova teoria estética; desencanto, perante a decadência do engajamento politico (apesar de sermos ação e projeto e assim os senhores da história); ausência de paixão e instrumentalização da razão, do saber; recusa da estandardização, da rigidez, do conservadorismo, de tudo o que de perto ou de longe se assemelhe ao burocrático; incapacidade do estável e do duradouro; culto do ócio, do presente, do momento e do novo; olhar desesperançado sobre um futuro incerto, fugaz e absolutamente imprevisível. Todas estas tendências vêm-se conjugadas numa atitude, num só, num estar-aí que é sintomático. Este é o grito sacralizado(r) de uma existência eufórica, inebriante e exacerbada. Num mundo em que Deus está morto, em que estamos irremediavelmente entregues a nós próprios, às nossas singelas e míseras existências. Sem desculpas, resta-nos ver tudo, fazer tudo e mostrar tudo, procurar assim um caminho no meio do caos distópico, uma ébria, mas livre possibilidade afrodisíaca de mergulhar na existência, no nada, na morte, na angústia, na migalha que sobrar no chão das estátuas vetustas e das calçadas gastas.