Luis Sepúlveda começou por agradecer a toda a organização do Correntes d’Escritas estar aqui mais um ano e acrescentou que o Correntes já não é só um encontro literário, é também um encontro entre amigos. Perante isto contou ser amigo do fotógrafo Daniel Mordzinski há 30 anos e, antes de discutir o tema pediu a atenção da plateia para um vídeo que ia passar sobre outro grande amigo de ambos, que infelizmente, já partiu, António Sarabia, também escritor e um assumido apaixonado por Lisboa. As fotografias da apresentação eram da autoria de Daniel Mordzinski.

Posto isto, já é possível falar sobre o tema e refletir que, realmente, a fotografia revela o que escondem as palavras e, a prova disso foi o vídeo que acabou de passar, com inúmeros momentos que palavras teriam escondido, ou não teriam transmitido da mesma forma.

No entanto para o público perceber melhor esta frase que deu mote a esta conversa, Luis Sepúlveda contou a aventura de uma viagem à Patagónia que fez com Daniel Mordzinski. Partiram de máquina fotográfica na mão à procura do ainda desconhecido, descobriram muitas histórias e momentos que guardam até ao dia de hoje. Andavam no meio do vento da Patagónia, sem destino, quando avistaram um senhor que lhes propôs ir a uma espécie de feira de gado, para comer e conhecer, quando lá chegaram perceberam as diferenças culturais e havia um cuidador de ovelhas vestido de maneira peculiar, “o Daniel pediu para lhe tirar uma fotografia e ele aceitou, quando viu a fotografia ficou muito surpreendido, nunca tinha visto uma fotografia na vida, muito menos dele próprio”, Luis Sepúlveda disse ter ficado admirado com aquela situação, a máquina fotográfica não é assim uma invenção tão antiga. Naquele momento o escritor e o fotógrafo perceberam que havia momentos que nem escritos se podiam explicar, e que nesses casos a fotografia vencia.

Outra história semelhante passa-se na mesma viagem, mas desta vez com uma senhora. Encontraram uma casa no meio do nada, que tinha um jardim pequeno e que emanava um odor a flores incrível, cativados pelo cheiro a rosas foram até lá, nessa casa encontraram a tal senhora que mal os viu reagiu como se estivesse à espera de os receber, na verdade a senhora fazia 99 anos e a alegria do dia dela foi ver o Luis Sepúlveda e do Daniel Mordzinski. O fotógrafo pediu para fazer algumas fotografias dela, rapidamente, arranjou o cabelo e sorriu. Para estes dois amigos foi um dos momentos altos da viagem e mais uma vez todas as palavras que poderiam utilizar ou escrever para descrever aquele momento iam esconder a beleza e o significado do mesmo.

Luis Sepúlveda acrescentou ainda que “quem vê as fotografias é que pode contar ou escrever uma história”.

Chegada a vez de Daniel Mordzinski falar, o fotógrafo apenas disse que depois do que o amigo tinha contado apenas fotografias podiam explicar o quanto gostava dele e da amizade de ambos, passando uma pequena apresentação com fotografias captadas pelo próprio.

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