Atentíssimos e muito interessados, os alunos tinham estudado bem a lição: leram obras do autor (e muitas já tiveram de ir para a reciclagem, tamanha a requisição na Biblioteca da escola e o desgaste dos livros) e prepararam surpresas ao convidado, a leitura de passagens dos seus livros, sempre com o acompanhamento de instrumentos musicais. 

Primeiro, claro, a apresentação: “tenho muito orgulho em ser de Baião e do FC Porto”. Mas explicar quem é torna-se difícil para António Mota: “nunca dizemos aquilo que verdadeiramente somos. Apenas dizemos aquilo que queremos que os outros saibam a nosso respeito”.

Sobre a infância, o escritor contou que começou “a trabalhar aos 7 anos. O meu pai era tamanqueiro, o equivalente a alguém que hoje faz as solas das vossas sapatilhas Nike, e tinha de o ajudar. Depois de fazer as minhas tarefas, lia. Nasci numa aldeia sem luz eléctrica e com apenas um telefone. As notícias chegavam por telegrama e eram trazidas pelo Zé Foguete, porque este senhor corria por todo o lado. Com treze anos fui estudar para Penafiel e ia apenas uma vez por mês a casa”. Depois, revelou emocionado: “tinha muitas saudades da minha mãe”.

A primeira aventura com a escrita aconteceu com a primeira paixão, pela Zé: “era linda aquela Zé, gordinha e atarracadinha. Comecei a escrever poemas para ela. Numa sexta-feira, entreguei-lhe os poemas para que ela tivesse todo o fim de semana para os ler e perceber. Na segunda-feira, sabem o que ela me deu? Uma estalada”.

Começou a sua carreira publicando poemas no Notícias de Penafiel, um jornal local, e “a primeira vez que vi o meu nome publicado mostrava com orgulho a toda a gente que encontrava”.

“Com 15 anos atravessei uma fase difícil: medos, dúvidas. E quando escrevo para vocês penso em mim nessa altura, embora reconheça que, entre mim e vocês, existe agora um fosso enorme”, confessou António Mota.

Quanto à intimidade do lar, o escritor avisou que “não copio a realidade. A intimidade de casa, da família, não deve ser transposta para os livros”.

“Um livro demora imenso tempo a escrever. Escrevo cinco horas por dia e esse tempo todo apenas para duas páginas. Quando termino um livro esqueço-me de tudo. Muitas vezes, quando visito escolas, me perguntam sobre determinadas personagens e eu passo grandes vergonhas porque não me lembro de nada. Se eu fizesse um teste sobre um livro meu de certeza que tirava negativa”.

Terminado o tempo, porque perguntas não faltavam, o escritor disse querer encerrar a sessão com a frase com que termina sempre as suas visitas às escolas: “ler não engorda”.

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