O primeiro a opinar sobre o tema foi Carlos Quiroga. O escritor espanhol começou por dizer: “espera-se dos autores que tenham tempo, experiência e, obviamente, talento, mas não invisível”.

“Literatura: uma questão de tocar violino. E reparem que eu disse uma questão de tocar e não uma questão de saber tocar. Há alguns anos, em conversa com um amigo poeta, ele contou-me pela quinta vez apenas em duas semanas o caso que teve com uma mulher fascinante do outro lado do mundo, num encontro literário. Ela era alta e elegante, ele era baixinho e gordo. A propósito desta história, o poeta garanhão garantiu-me, então, que isto de estar na literatura nada tem a ver com posteridade, nada com demonstração de inteligência invisível. Ele está nisto das letras para conquistar mulheres. Por elegância, descrição ou pose intelectual falamos de arte, de glória. A conquista é proporcional ao mérito da obra? Maior a obra, maior a conquista? Isso perguntei ao poeta e ele respondeu: isso não sei, mas sei que o violino é fundamental. Mas sabes tocar? Não, respondeu, mas as mulheres adoram. Isto para dizer que, na literatura é uma questão de visivelmente tocar violino e não de invisivelmente saber tocá-lo”, concluiu.

Gonçalo M. Tavares começou a sua apresentação contando a história de um imperador que pediu a um pintor para apagar uma cascata de um quadro que tinha no seu quarto porque não conseguia dormir com o barulho da água. E os livros têm esse poder, o de fazerem som mesmo quando estão fechados”.

Para o escritor, “uma das teorias da linguagem mais fascinantes associa o seu aparecimento à linguagem gestual em que os sons eram pequenos estalidos e a comunicação era manual, ou seja, só se podia ler a linguagem se se estivesse a ver. Nesse caso, a luz era imprescindível. Também tornava a cooperação de tarefas quase impossível, pois para comunicar era necessário parar para olhar para as mãos do outro”.

Sobre a invisibilidade, Gonçalo M. Tavares afirmou que no ocidente “somos obcecados pelas coisas materiais. E damos pouca importância ao espaço vazio e é ele que permite o movimento. O espaço anuncia algo que pode acontecer ali. Nas casas japonesas só fazem parte da casa os objetos que são utilizados pelo menos uma vez por semana”. Ainda sobre o tema, o escritor afirmou que “muitas vezes, o que está visível deixa de estar precisamente por estar permanentemente presente. Ou seja, com a construção da Biblioteca de Viana houve protestos por parte da população por considerarem que o edifício iria quebrar a relação das pessoas com o rio e o que aconteceu foi precisamente o contrário”.    

Margarida Fonseca Santos começou por afirmar que ter sido convidada para estar no Correntes d’Escritas “foi o maior prémio literário que recebi”. “Literatura: uma questão de inteligência invisível ou de dependência quase irracional?”, questionou a escritora. “É estranho vacilar. Talvez a culpa seja das minhas muitas leituras. Guardo muto mais do que palavras. Guardo formas de contar. Sou sôfrega pelas palavras dos outros. Sendo assim, a inteligência nasceu a ler, de forma invisível, quase como um vício que desaguou em escrita. Se escrevo a culpa é dos escritores”.

“O propósito da literatura é reinventar o pensamento de todos nós”, disse Margarida Fonseca Santos.

Para Mário Cláudio há “génios burros. Pessoas que são absolutamente geniais nas suas artes mas, fora disso, do âmbito da criatividade, nem sequer conseguem manter uma conversa. E isso também acontece entre os escritores. Há escritores burros e que podem escrever coisas muitíssimo interessantes. Independentemente da inteligência ou da estupidez, quanto maior capacidade um escritor revelar de beber à fonte da experiência, maior será a capacidade da sua escrita e isso nada tem a ver com a sua inteligência ou grau académico”.

Sérgio Godinho considerou o tema muito fugidio. “O que vemos quando olhamos para a primeira página de um livro? A primeira pista de aterragem”. O escritor e música lembrou Alice no país das maravilhas e as fortíssimas imagens poderosamente visuais. Uma imagem vale por mil palavras mas tentem dizer isto numa imagem”.   

Sérgio Godinho lembrou a sua música “Salão de festas” ao falar sobre o Cine-Teatro Garrett. A letra diz “Bem-vindos todos ao salão de festas, faz bem andar nisto destas andanças”, apropriada ao edifício e à vida cultural que está a trazer à cidade. “Estou muito feliz porque há mais um espaço de cultura, de entretenimento e interrogação e com funções múltiplas na sua programação. Tenho muito boas referências de boas salas de espetáculos por este país fora e o Cine-Teatro Garrett foi recuperado magnificamente. Por isso, quero dizer-vos “bem-vindos todos ao salão de festas”.

Onésimo Teotónio Almeida recordou uma expressão antiga: “a inteligência é como a roupa interior. É importante tê-la mas não se deve exibi-la”. O escritor afirmou que ouviu apenas uma vez na sua vida alguém dizer que não era inteligente. “Conseguimos dizer que somos um zero a matemática, que não sabemos desenhar e que não temos jeito nenhum para desporto, mas nunca ouvimos ninguém admitir que não é inteligente. A pior afronta a alguém é insultar-se-lhe a inteligência”.

“A imaginação é a inteligência a divertir-se”, sublinhou Onésimo.

Mas, quanto mais subtil, mais inteligente. A escrita mostra, mas não exibe a inteligência, sempre ilustrando, mas não explicando, que o leitor não gosta.