O ViMus entrou ontem no seu segundo dia e,
desde as quatro da tarde à meia-noite, difícil foi escolher o que ver neste
festival que celebra a música e o vídeo ao seu serviço.

Na discoteca Nox projectaram-se videoclipes em competição internacional
e filmes da colecção Freedom Now, e os bares Brisa e Guma´s receberam outras
projecções de clipes em competição nacional e internacional. Para o Diana Bar
foram, uma vez mais, reservadas as projecções mais longas dos
videodocumentários. O antigo café está por estes dias transformado em sala de
estar gigante, com muitos sofás e pufs a convidarem a uma noite em frente ao
ecrã, e por lá têm passado trabalhos de grande qualidade, na área dos
videodocumentários. Trabalhos em que é difícil distinguir fronteiras entre o
conteúdo informativo e o conceito artístico, desde logo porque o tema de
partida– a música – se remete para a arte, remete também para modos de vida,
culturas, maneiras de sentir, novas formas de expressão. A música e a vida não
se descolam, na realidade. É por isso que videodocumentários como o brilhante
“É Dreda ser Angolano”, que fechou a noite de ontem, no Diana, acabam por
mostrar mais da realidade angolana e mais concretamente de Luanda, do que uma
reportagem de fôlego. Ali estão os sonhos, 
a música, o talento de uma sociedade jovem, tudo servido com a cruas
imagens de uma cidade onde viver é uma arte em si mesma. Os esquemas, a gasosa,
o kuduro, os candongueiros, os esgotos a céu aberto, a crítica social nas
letras das músicas que nascem nas ruas e na nova “pensologia”, mas uma Luanda
onde a vida se alicerça na música, na dança e na despojada simplicidade de quem
nada tem mas não perde a alegria e não deixa de acreditar que ainda um dia,
há-de ter água canalizada e luz eléctrica.  E assim se prova que, a partir da música – o
disco Ngonguenha, de onde Pedro Costa, da Família Fazuma, explica ter saído a
inspiração para fazer este “mambo tipo documentário” – se mostra a vida, se
explica uma cultura, se expõem os sonhos.

Excelente forma de terminar esta segunda noite do vimus, que no Diana Bar, assistiu também
a outro excelente videodocumentário, este sobre o dub, “Dub Echoes”, de Bruno Natal,
sobre o dub jamaicano e a sua influência em muita da música que hoje se ouve e
que nem se suspeita que nele teve a sua inspiração. Uma vasta colecção de
depoimentos de músicos e produtores que ajudam a perceber a interpenetração de
géneros musicais e aquilo que caracteriza o dub – a predominância do baixo, que
sobressai em toda a melodia e no conjunto dos instrumentos. E, se na Europa se
tem que tapar os ouvidos, pela predominância das teclas e sons mais agudos à
superfície da música, na Jamaica, tem que se segurar o coração. Mas hoje em dia
já não é preciso ir à Jamaica para ouvir os sons mais genuínos, porque as
influências e os músicos estão por todo o lado e o dub se espalhou e deu origem
a produções de grande qualidade em países tão díspares como a Suécia, a Grécia,
a China, até, e, claro, o Brasil.

Vimus_dia2

Sumário possível de uma noite longa, que continuou pelos outros espaços
que o ViMus ocupa na cidade por
estes dias, e alerta para este terceiro dia, que vai começar no Diana Bar, ás
16h00, com a exibição dos videodocumentários “Sonic Youth Sleeping Nights
Awake” e “Music Partisans”. Segue-se, às 19h00, o especial Rui de Brito, que
também veioao festival, a exibição de videoclipes em competição nacional e, a
partir das 22h30, mais dois videodocumentários: “B.Leza” e “Kuduro – fogo no
musseke”. Nox, Brisa, Guima´s e Dali Daki recebem outras projecções e o
programa pode ser consultado em www.cm-pvarzim.pt
ou em www.festivalvimus.wordpress.com

Para além dos vídeos em exibição, destaque para a presença dos
realizadores nacionais e para a atmosfera informal, que caracteriza este
Festival Internacional de Vídeo Musical, e que permite ao público contactar com
os cineastas e perceber as histórias por detrás das imagens.

O ViMus continua até dia 7,
na Póvoa de Varzim, nesta que é a sua segunda edição.