O Museu Municipal de Etnografia e História da Póvoa de Varzim foi fundado em 1937 por ação de António dos Santos Graça, insigne poveiro originário da classe piscatória, o qual, observando que as práticas e tradições próprias deste grupo se iam perdendo sem nenhum registo ou recolha, publicou, em 1932, O Poveiro. Neste livro “apresentava, de forma clara, minuciosa e atraente, a fisionomia cultural da comunidade poveira, redescoberta nos seus aspetos mais importantes e originais: a organização social, o parentesco, a transformação e a mudança, encarando já a Antropologia como ciência total do homem;”[i]. Após a realização da 1.ª Exposição Regional de Pesca MarítimaCosta de Entre Douro e Minho, no Monumental Casino da Póvoa de Varzim, em Outubro de 1936, Santos Graça cria um Museu Municipal, o qual é aberto na casa, arrendada para este fim, conhecida pelo «Solar dos Carneiros», edifício brasonado reconstruído na segunda metade do século XVIII (por Manuel Carneiro da Grã Magriço), adquirida pelo Município ao Dr. João do Ameal, Conde do Ameal, em 1974 e declarado Imóvel de Interesse Público em 1986 (Decreto nº 1/86 DR 1ª Série, nº 2, de 03 de janeiro).

O Museu, aquando da sua fundação e no decurso da sua existência, foi acolhendo diversas coleções que se encontravam na posse da Câmara Municipal (por aquisição ou oferta) como: a coleção de faianças (dos séculos XVI a XIX) e mobília adquirida às herdeiras de Rocha Peixoto (etnógrafo, arqueólogo e fundador da Revista «Portugália»); o acervo do “Museu do “Club Naval Povoense”, inaugurado em 1907, denominado “Museu Regional” e oferecido à Câmara Municipal em 1909, para ser designado como “Museu Rocha Peixoto”; as coleções de Arqueologia e História do “Museu do Padre Brenha” (catalogadas e divulgadas por Cândido Landolt, em 1893) e peças do “Museu regional”, conservadas no Liceu; as inscrições romanas de Beiriz; peças recolhidas aquando da demolição da primitiva igreja Matriz [1916 – 1918] e cedidas pela Santa Casa da Misericórdia, etc.

Desde o início que era patente a inadequação do edifício à nova função. Santos Graça, no entanto, conseguiu criar um Museu que durante anos foi considerado modelar em termos da Etnografia Marítima e milhares de visitantes percorreram este Museu e guardaram uma terna lembrança da forma como este mostrava as tradições e as artes dos pescadores e agricultores poveiros. As cenas do quotidiano da vida poveira – desde o nascimento até à morte, a faina, os modelos de barcos de pesca e salva-vidas, as tradições, religiosidade e crendices – tornaram-se num dos principais focos de interesse, a par das medalhas do Cego de Maio, dos retratos deste e outros heróis, simples, mas orgulhosos, pescadores.

A vocação etnográfica marítima do Museu era evidente, mas também a vida natural, aves, peixes, mamíferos embalsamados, a Arte Sacra, os objetos mais diversos do bric-a-brac aqui encontravam lugar. As doações sucediam-se incentivadas por frequentes notícias nos jornais locais, escritas pela mão de Santos Graça. No Museu o Mestre Quilores e família desdobravam-se na montagem e manutenção das salas e acarinhando o Museu e os visitantes. Às suas mãos hábeis se devem as dezenas de miniaturas que ilustravam os jogos tradicionais e outros costumes da vida poveira.

A morte de Santos Graça acarretou uma lenta agonia para o Museu. As condições do edifício degradavam-se rapidamente, as colecções estavam em risco. Em Janeiro de 1974 a Câmara adquiriu o edifício do Solar dos Carneiros. As colecções do Museu foram guardadas e iniciou-se o processo de renovação e alargamento do edifício. Mas, enquanto esteve encerrado manteve-se activo e foram montadas várias exposições como: “As Siglas Poveiras”, que conquistou o Prémio Internacional do European Museum of the Year Award, em 1980; “O Traje Poveiro”;Arqueologia do Concelho da Póvoa de Varzim”; “António Santos Graça – O Homem e a Obra”; “A Pesca, os Banhos, a Vida Rural – uma visão da comunidade em tempo de mudança” e outras mostras que conheceram uma notável itinerância em Portugal e na Europa.

O Museu, reaberto em 7 de Setembro de 1985, foi sendo ocupado por exposições temporárias que abordaram os mais diversos aspetos da História e Etnografia da comunidade poveira ao longo dos tempos. Reconstituíram-se algumas salas com as antigas miniaturas das cenas da vida poveira e a “cozinha tradicional” devido aos insistentes pedidos dos visitantes que queriam rever e mostrar às novas gerações as tradições do modo de viver de outros tempos, conservando um sector como: o “Museu do Museu”.

Em 1991, a construção por iniciativa do Museu e de várias entidades locais, de uma réplica em tamanho natural da Lancha Poveira do Alto, que tem realizado diversas viagens em Portugal, Espanha e França, é bem significativo do carácter vivo e dinâmico do Museu.

Outro projeto importante e que marcou a feição expositiva do MMEHPV, foi a abertura do Núcleo de Arqueologia no Museu Municipal, em 1997. Foram aqui apresentados os resultados das escavações realizados em várias estações arqueológicas concelhias de que se destacam os achados em Beiriz, na Cividade de Terroso, Vila Mendo Estela e Rates.

O ano de 2001 marcou a integração do Museu Municipal de Etnografia e História da Póvoa de Varzim na Rede Portuguesa de Museus, ação dependente do Ministério da Cultura – Instituto Português de Museus, tendo essa candidatura sido aprovado a 19 de novembro, o que correspondeu à 1ª fase de adesão.

A candidatura apresentada ao Plano Operacional de Cultura, em 2003, veio trazer grandes proventos. Assim, em 2004, assistiu-se à criação de uma rede de pequenos polos museológicos, que apresentam ao visitante dois dos recursos mais importantes e paradigmáticos deste concelho: a Cividade de Terroso e a Igreja Românica de S. Pedro de Rates.

A inauguração, a 28 de junho de 2004, do Núcleo Arqueológico da Cividade de Terroso permitiu a criação de um Centro Interpretativo, o que enriqueceu e facilitou a descoberta e compreensão desta importante estação arqueológica da Cultura Castreja do Noroeste Peninsular. Neste povoado encontram-se vestígios da Idade do Bronze, Idade do Ferro, Romanização e Alta Idade Média. Atualmente constitui um assinalável polo de atração do turismo cultural, cifrando-se em largos milhares o número de visitantes que, anualmente, podem usufruir deste espaço, ambientalmente recuperado e da riqueza urbanística e patrimonial de um povoado da Idade do Ferro.

Alguns dias mais tarde, a 10 de Julho de 2004, foi inaugurado o Núcleo Museológico da Igreja Românica de S. Pedro de Rates, equipamento que ao funcionar como Centro Interpretativo e de estudo contribuiu para a valorização turística e cultural, não só deste monumento, mas também do espaço em que se insere, a medieval vila de Rates, facilitando e melhorando as condições de visita à Igreja Românica e zona histórica envolvente.

Entretanto a dinâmica de atuação foi-se alargando e a partir de 2007 assistiu-se a um incremento das atividades de carater lúdico, tais como recriações / encenações de várias épocas históricas (castreja, romana, medieval), que decorreram em vários espaços públicos do concelho segundo o melhor enquadramento patrimonial; “Caminhos de Santiago; etc. Este conjunto de ações revelou uma grande capacidade de captação de público e uma forma bem-sucedida de divulgar a história e património local.

A intensa atividade promovida pelo Museu / Pelouro da Cultura do Município da Póvoa de Varzim foi tornando evidente a insuficiência do espaço disponível para as reservas, zonas de trabalho e serviços educativos, bem como os espaços de exposição e realização de eventos. Foi, assim, concebido um projeto para renovação e ampliação do Museu (para um espaço disponível a noroeste do solar). Este processo denominado “Valorização e Ampliação do Museu da Póvoa de Varzim” foi apresentado ao Plano Operacional da Cultura tendo merecido uma apreciação favorável, em 2007.

Esta nova intervenção de ampliação do espaço levou ao encerramento de portas entre outubro de 2007 e fevereiro de 2009. Estas obras permitiram ampliar as áreas de exposições permanentes e temporárias, qualificar as zonas técnicas, diversificar os espaços destinados ao público e criar um recinto polivalente que permite a realização de eventos de média dimensão.

O novo percurso de exposição segue, agora, um percurso cronológico coerente, começando pela geologia e definição do território, decorrendo, de seguida, pela mais remota antiguidade, com especial relevo no povoamento proto-histórico e romanização, proporcionando ao visitante a possibilidade de conhecer o património, a história e a etnografia das comunidades que ocuparam o território onde hoje se encontra implantado o concelho da Póvoa de Varzim.