O
escritor moçambicano contou a experiência real vivida pelo autor na aldeia de Kulumani,
no Norte de Moçambique: “Eu estava a dormir na aldeia, e os leões atacaram a
aldeia. Estavam a cerca de 300 metros do local onde eu estava. Nos quatro ou
cinco meses seguintes houve uma série de ataques brutais, e as vítimas eram
quase sempre mulheres”, afirmou o autor. Mia Couto explicou que “só depois me
apercebi de um outro conflito por trás destes ataques. Começaram a surgir
ideias que, para mim, constituíam o desamparo total. As pessoas começavam a
reconstruir antigos mitos para encontrarem defesas, como pensar que aqueles
leões não se conseguiam matar com armas porque não eram deste mundo”.

A partir
daí, o autor apercebeu-se de uma outra, também retratada no livro. “Percebi que
havia diferentes tipos de medo e uma condição desumana da mulher. A
desumanização da mulher não é só coisa de África, é uma coisa do mundo. Por
outro lado, percebi que em determinadas sociedades o homem tem receio de ser
devorado por uma mulher que tenha poder, e o medo torna-os inseguros e violentos,
disse Mia Couto. “Há mulheres que são devoradas pela vida antes de serem
devoradas pelos leões. Esta história é apenas um pretexto para escrever sobre
as mulheres”, confessou.

O desejo
de Mia Couto “não é mostrar a África do Rei de Espanha, de caçar elefantes.
Quero quebrar esse estereótipo.

Luís Diamantino, Vereador do Pelouro da Cultura,
foi o anfitrião deste final de tarde passado na companhia do autor moçambicano:
“Mia Couto é muito mais do que um escritor para nós. É já um amigo, alguém que
faz parte da nossa família cultural”.