A partir de Fevereiro, conheça estas peças que, quando
usadas, são escondidas e quase esquecidas nos estudos do traje. Esta exposição,
organizada pelo Museu Municipal, só é possível graças a um diversificado e
vasto número de pessoas que, ao longo dos anos, ofereceram peças de traje que
estavam na posse das suas famílias, por vezes há várias gerações. Peças
confeccionadas nos ateliês de modistas e costureiras que outrora existiam na
Póvoa, ou adquiridas nas lojas do próspero comércio que a Póvoa tinha desde o
século XIX.

O estudo do traje civil, religioso, militar ou etnográfico
enche capítulos de uma miríade de edições que abordam a evolução do vestuário,
a diversidade de tecidos, cores e formas que a roupa teve ao longo da sua
história. Existem museus dedicados ao traje, onde vestimentas de outrora,
usadas por importantes figuras, irmanam com roupas do povo ou indumentária
litúrgica. Muito menos atenção foi dada às vestes interiores, aquelas peças de
roupa que se envergavam directamente sobre a pele, proporcionando maior
conforto e aconchego e poupando a roupa de fora à transpiração, odores e
fluidos corporais. A “roupa de dentro”, ou “roupa branca”, como também era
denominada, era, muitas vezes, a única que era lavada e, mais ou menos frequentemente,
mudada. Em épocas em que os cuidados de higiene corporal eram pouco frequentes
e a maioria das casas não tinha uma casa de banho, esta mudança de roupa
constituía, por si só, uma incipiente forma de higiene muitas vezes recomendada
por médicos e higienistas.

As classes mais abastadas usavam estes trajes manufacturados
em tecidos finos e ricos, com bordados ou rendas, fitas e botões de madrepérola
ou materiais semi-preciosos. O povo usava menor diversidade de peças, os
tecidos mais baratos, os cortes mais simples, mas, até nestes, o gosto por um
certo luxo por vezes emerge, através de uma elaborada costura colorida, uma
renda barata, um bordado a vermelho, franzidos ou pregueados, mesmo aqueles que
pouco tinham, gostavam de possuir, nos seus trajes íntimos, uma sensação de
luxo, com estes adornos ou ornamentos.

Neste mundo da
“intimidade”, onde, podemos ver trajes das classes trabalhadoras, lado a lado
dos trajes ricos da burguesia local, mostram-se peças onde impera o decoro,
junto de outras em que se insinua uma sensualidade muitas vezes reprimida.