Mas foi do percurso do autor na Póvoa de Varzim e do seu gosto pela nossa cidade que mais se falou no final da tarde de ontem.

O Presidente da Câmara Municipal da Póvoa de Varzim, Aires Pereira, lembrou o percurso do arquiteto na nossa cidade e as marcas que, até hoje, predominam no concelho: “começou por vir até à Póvoa de Varzim para dar pareceres sobre o licenciamento, numa altura em que a Câmara Municipal não tinha técnicos. O Plano de Pormenor da zona Norte da cidade – tão polémico e que foi apelidado, até, como desastre – foi sendo pensado e desenhado pelo arquiteto Carvalho Dias e depois, como sabemos, foi sendo destorcido conforme ia dando jeito ao setor da construção. O Plano projetado tem muito pouco a ver com o que foi edificado posteriormente”, afirmou o autarca. “Em 1974, a Câmara Municipal tomou a deliberação que só se podia construir na zona Norte se os edifícios tivessem dez andares ou mais. Reparem na que era a noção de desenvolvimento nos anos 70. Fruto disso, a Póvoa de Varzim, durante muitos anos, teve como cartão-de-visita o famoso prédio de 28 andares, na época o mais alto da Península Ibérica”, continuou Aires Pereira. Carlos Carvalho Dias deixou a Póvoa de Varzim e o trabalho que estava a desenvolver para ir para Macau, onde permaneceu pouco mais de um ano. Quando regressou à cidade, “a construção já ia em velocidade de cruzeiro e apontava-se como causa de todos os males a falta de planeamento para aquela zona da Póvoa de Varzim. Foi, até, constituída uma comissão, em 1988, para fazer uma avaliação e, desse trabalho, surgiu um relatório que dava conta que, do Plano efetuado por Carvalho Dias, pouco tinha sido posto em prática”. No entanto, o Presidente da Câmara Municipal recordou que a origem do Parque da Cidade ou da Via B, dois de muitos exemplos, estão nas plantas desenhadas pelo arquiteto Carlos Carvalho Dias.

O autor disse sentir-se muito honrado por estar no Diana Bar, “um espaço onde ainda se sente tanto o José Régio, e eu sou um regiano convicto”. Carlos Carvalho Dias continuou: “podiam perguntar-me porque quis apresentar este livro na Póvoa de Varzim, se até tenho mais conhecidos noutras cidades. A minha terra é Viana do Castelo, e gosto imenso dela, mas não tenho o calor que tenho aqui na Póvoa. Trabalhei imenso aqui. Fiz um plano estudado ao pormenor”. O arquiteto considera ter aqui “amigos de infância. Trabalhei em muitas terras, mas só aqui considero ter criado raízes”.

Sobre o livro apresentado, Memórias de Trás-os-Montes e Alto Douro, retrata uma fase da arquitetura portuguesa naquela região do país. Carlos Carvalho Dias integrou, entre 1955 e 1960, a equipa que iria fazer o levantamento sistemático da construção popular da região, num projeto mais vasto que percorreu todo o país, levado a efeito pelo então Sindicato Nacional dos Arquitetos, e que deu origem, em 1961, ao livro Arquitectura Popular em Portugal, um documento único e de valor incalculável, pelo conhecimento que possibilita da profunda mutação do território nacional. Imagens, desenhos e depoimentos proporcionam com esta publicação um regresso ao passado, a uma época de um Portugal em profunda mutação, e um alargamento do conhecimento de Trás-os-Montes e Alto Douro de há mais de meio século.