“Em termos ecológicos, o ano de 1849 é
histórico porque, ao restringir o corte das algas a um período  limitado do ano, marca o início de um
controlo e gestão modernas e ecológicas deste recurso natural. Esta restrição manter-se-á
em toda a legislação posterior de carácter nacional” afirmou o biólogo que
desenvolveu a sua investigação com base na documentação existente no Arquivo
Municipal, fundamentalmente, as actas das vereações da Câmara da Póvoa de
Varzim a partir do século XVII, mais concretamente 1620.

João Cabral referiu a força do Foral da
Póvoa como lei irrevogável e soberana, bastante explícito quanto à apanha do
sargaço nos limites do concelho, proibindo que moradores de fora do concelho
fossem à Póvoa apanhar sargaço. “As disposições do Foral da Póvoa sobre a
exclusividade do sargaço para os seus moradores mantêm-se inquestionáveis e
invioláveis, até ao crepúsculo da vigência destes diplomas régios, com o
liberalismo” continuou o investigador.  A
Igreja também desempenhou um importante papel na legislação municipal relativa
a esta actividade incorporando a proibição da apanha do sargaço aos Domingos e
dias santos feriados. Esta proibição mantém-se na legislação municipal durante
séculos, mas, à semelhança das disposições eclesiásticas, o seu rigor intransigente
do século XVII afrouxa passando-se para um regime relativamente permissivo a
partir de meados do século XIX.

O exercício desta actividade geriu conflitos entre a exploração intensiva
e a gestão racional deste recurso natural com implicações a nível económico,
social e ecológico. Perpassando as diferentes ferramentas de apanha e de corte,
ao objectos de transporte e embarcações utilizados, João Paulo Cabral,
estabeleceu os seguintes limites temporais para a tecnologia da apanha do
sargaço na Póvoa: a graveta e a ganchorra eram já utilizadas em 1626, e o uso
de barcos e jangadas é provavelmente também anterior a este ano; o corte do
sargaço é anterior a 1762 e o uso de redes para apanhar o sargaço data
provavelmente de pouco antes de 1844. A necessidade de gerir bem este recurso
restringindo o corte das algas aos meses de Verão é sentida em meados do século
XIX de forma intuitiva pelos habitantes do concelho que entendem que as algas
necessitavam de um tempo de renovação apesar de desconhecerem os seus ciclos de
vida.

Os interessados em saber mais sobre a apanha do
sargaço no concelho da Póvoa de Varzim poderão ler o artigo publicado por João
Paulo Cabral no último volume do Boletim Cultural da Póvoa de Varzim.