Ambos expressaram o gosto em conversar e conviver com crianças, “sempre honestas e com perguntas muito pertinentes e, por isso, fico sempre nervoso”, confessou o poeta açoriano. De facto, Ivo Machado não estava errado e os alunos interrogaram os escritores, fazendo sentir que o trabalho de casa estava feito e que muito sabiam sobre os convidados e, especialmente, sobre as obras A crocodila mandona, de Adélia Carvalho, e A menina que queria ser bailarina, de Ivo Machado. “Este foi o livro que mais gosto me deu escrever. É o meu primeiro livro infantil e dediquei-o à minha filha”, disse o escritor. Já Adélia Carvalho escreve apenas para crianças e afirmou que “quando crescer talvez escreva para adultos. Enquanto for pequenina, prefiro dedicar-me a vocês”.

A Ivo Machado perguntaram se já tinha tido medo de falhar e, por isso, vontade de desistir. O escritor lembrou o que tinha dito no início da conversa: “estão a ver as tais perguntas pertinentes?”, brincou. “Só tenho certeza de duas coisas: do meu nome e do número do meu Bilhete de Identidade. De nada mais. Por isso, tenho sempre medo de falhar. Mesmo hoje, quando sair daqui, vou perguntar a algum amigo se estive bem, se falei bem. Duvido de tudo porque sabemos todos muito pouco e não gosto quando as pessoas acham que são infalíveis, que conhecem tudo, sabem tudo”. A inspiração para a escrita vem, essencialmente, dos anos vividos em Angra do Heroísmo. “A minha pátria é a minha infância.”

Adélia Carvalho confessou sentir-se muito bem entre crianças porque “no fundo, ainda sou muito infantil. Acreditem que muitas pessoas me dizem que tenho de crescer. Choro muito facilmente e fico triste quando se zangam comigo, tal como vocês. Vivo tudo muito intensamente e nem sempre sou compreendida pelos adultos”, disse sorrindo. Aos alunos, a escritora pediu para que leiam muito e que se esforcem para tornarem os seus sonhos realidade. “Quando vi um dos meus livros na montra de uma livraria em Itália, comecei a saltar e a gritar em plena rua”, exemplificou. Já Ivo Machado publicou o seu primeiro livro com 21 anos e, “em Angra do Heroísmo, onde havia duas livrarias, o escritor passava em ambas as montras, todos os dias, dez a quinze vezes. O livro foi publicado em Abril e, em Outubro, seria anunciado o Prémio Nobel da Literatura e eu aguardava ansiosamente o resultado, pois achava que iam atribuir o Prémio a mim”.

Após a conversa com os escritores, os alunos tiveram a oportunidade de ouvir três vozes transeuntes nas ruas da poesia.

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