Acompanhado de Driss El Maloumi, Pedro Estevan e Dimitris Psonis, Jordi Savall apresenta “Um Diálogo das Almas”, compilação de músicas do Oriente e do Ocidente – Diálogos das músicas antigas e das músicas do Mundo: música árabo-andaluza, sefardita, Espanha cristã, século XIV europeu, azerí (Turquia), Marrocos, Pérsia e Afeganistão.

“Um Diálogo das Almas”

“Escutar estas músicas do Oriente e do Ocidente, subtilmente reunidas por Jordi Savall, não é uma experiência vulgar. Porque à emoção estética vem juntar-se um sentimento mais intenso ainda, o de comunicar, por encanto, com uma humanidade reconciliada.

Esta não terá perdido algo da sua alma na segunda metade do século XV, aquando da morte simultânea de Sefarad e de Al-Andalus, quarenta anos após o desmoronamento de Bizâncio? Entre o Oriente e o Ocidente, pontes mentais e espirituais foram destruídas e nunca mais reparadas. O Mediterrâneo cessou de ser o mar fértil situado no centro do nosso universo cultural, para não mais ser senão um campo de batalha e uma barreira.

Hoje, o nosso mar comum é o lugar onde se eleva a Muralha invisível que separa o planeta entre o Norte atemorizado e o Sul desesperado; e entre comunidades planetárias que ganharam o hábito de desconfiar do “Outro”, e dele se demarcar. O mundo árabe e o mundo judeu parecem ter esquecido o seu fecundo parentesco de outrora; o Oriente muçulmano e o Ocidente de tradição cristã parecem encerrados numa confrontação sem saída.

Para voltar a dar à nossa humanidade desnorteada alguns sinais de esperança, torna-se necessário ir muito além do diálogo de culturas e crenças, para um diálogo das almas. Tal é neste início do século XXI a missão insubstituível da arte. É muito precisamente o que sentimos à escuta destas soberbas músicas vindas de épocas e de terras diversas. Subitamente descobrimos, ou redescobrimos, que as civilizações que nos pareciam afastadas umas das outras, e mesmo inimigas, estão espantosamente próximas, espantosamente cúmplices.

No decorrer desta viagem no tempo e no espaço, interrogamo-nos a cada instante se, finalmente, os conflitos a que nos acostumámos não são enganadores, e se a verdade dos homens e das culturas não reside antes neste diálogo dos instrumentos, dos acordes, das cadências, dos gestos e dos sopros instrumentais.

Sobe então em nós um sentimento de alegria profunda, suscitada por um acto de fé: a diversidade não é forçosamente um prelúdio ao infortúnio; as nossas culturas não estão envolvidas por paredes estanques; o nosso mundo não está condenado a divisões sem fim; pode ainda ser salvo…

Não estará aí, aliás, desde o começo da aventura humana, a razão primeira da existência da arte?”

(Amin Maalouf – texto inicialmente inserido no álbum Orient-Occident / 1200-1700 – Alia Vox AV 9848)

JORDI SAVALL viela, lira de arco, rebab e direcção artística

Um dos mais multifacetados e dotados músicos da sua geração, a sua carreira como músico concertista, professor, investigador e criador de novos projectos, tanto musicais como culturais, tornou-o num dos principais arquitectos da actual reavaliação da música histórica. Em conjunto com Montserrat Figueras fundou os agrupamentos Hespèrion XXI, La Capella Reial de Catalunya e Le Concert des Nations. Iniciou os estudos musicais como cantor no coro infantil de Igualada (Catalunha), a sua cidade natal, e prosseguiu-os no violoncelo. Depois, começou a aprender viola de gamba e música antiga como autodidacta, e partiu para estudos mais avançados na Schola Cantorum Basiliensis (Suiça).

Gravou para cima de 170 CDs. Foi galardoado com muitos prémios, tais como “Officier de l’Ordre des Arts et Lettres” (1988), “Membro Honorário da Konzerthaus” de Viena (1999), Doctor Honoris Causa na Université Catholique de Louvain (2000) e na Universitat de Barcelona (2006), “Victoire de la Musique” pela sua carreira profissional (2002), e o Prémio Honorário da “Deustchen Schallplattenkritik” (2003), entre outros, e também ganhou vários “Midem Classical Awards” (1999, 2000, 2003, 2004 e 2005). O seu duplo CD “Don Quijote de la Mancha, Romances y Músicas” (ALIA-VOX) esteve entre os cinco nomeados para o Grammy Awards de 2006 na categoria de “música antiga”.

Um dos seus últimos concertos, o livro-CD “Jérusalem, La Ville des deux Paix: La Paix céleste et la Paix terrestre”, foi galardoado em 2009 com o “Orphée d’Or da Academia do Disco Lírico 2008” e o “Caecilia 2008”, como o melhor CD do ano escolhido pelos membros da imprensa. Recentemente, foi premiado com o “Händelpreis der Stadt Halle 2009” (Alemanha).

Em 2008 foi nomeado “Artist for the Peace” para o programa da UNESCO “Embaixador de boa vontade”. Em 2009 foi nomeado uma vez mais “Embaixador do Ano Europeu” da criatividade e inovação, pela União Europeia.

DRISS E L MALOUMI ud

Driss el Maloumi é considerado como um dos mais talentosos tangedores de ud da sua geração no seu país de origem, Marrocos, assim como em todo o mundo. A sua cultura literária e musical permite-lhe abordar muitos estilos musicais diferentes, graças à enorme destreza instrumental. Assimilou os processos usados pelas tribos berberes na utilização dos alaúdes orientais e ocidentais, superando clichés académicos e étnicos.

As suas apresentações, plenas de tristeza e inspiração, são preenchidas com ornamentos que evitam o narcisismo cénico. Toca alaúde com elegância e sinceridade, sem exibição inútil.

As suas investigações dispersam-se pelos seus agrupamentos de pesquisa, em busca do colorido da música antiga e contemporânea, e pelo encontro com artistas internacionais como Jordi Savall e Hespèrion XXI (Espanha), Pierre Hamon (França), Keyvan Chemirani (Irão), Françoise Atlan (França), Omar Bachir (Iraque), Carlo Rizzo (Itália) e Alla (Argélia) no âmbito da música antiga, tradicional e clássica, e Paolo Fresu (Itália), Claude Tchamitchian (Arménia), Alban Darche (França) e Xavi Maureta (Espanha) no jazz. Escreveu e tomou parte na composição de muitas realizações musicais.

DIMITRI PSONIS santur e moresca

Dimitri Psonis começou os seus estudos musicais em Atenas, onde nasceu.

Especializou-se em análise musical, harmonia, contraponto, música bizantina e instrumentos musicais gregos. Depois, deslocou-se para Madrid onde obteve o grau superior de percussão e pedagogia musical no Conservatório Superior desta cidade.

Tem acompanhado numerosos cantores e instrumentistas, tais como Elefthería Arvanitaki, Maria del Mar Bonet, Eliseo Parra e Javier Paxariño.

Nos últimos anos dedicou-se ao estudo e interpretação da música clássica otomana e à música popular da Grécia e da Turquia.

PEDRO ESTEVAN percussão

Nasceu em Sax (Alicante) em 1951. Estudou percussão no Conservatório Superior de Música de Madrid. Em Aix-en-Provence (França), estudou percussão contemporânea com Sylvio Gualda e africana com o mestre senegalés Doudou Ndiaye Rose. Estudou ainda a técnica de «hand-drums» com Glen Velez. É membro fundador do Grupo de Percusión de Madrid. Integrou diversos grupos de jazz, e trabalhou como músico de “sesión-estudio” e fundou a Orquesta de las Nubes – juntamente com María Villa y Suso Sáiz –, Rarafonía e Pan-Ku percussão.

Desde 1986, Pedro Estevan é membro do Hespèrion XXI, Le Concert des Nations e Laberintos Ingeniosos. Interveio em diversas montagens teatrais de Lluís Pasqual e de Nuria Espert. Compôs a música para «Alesio» de Ignacio García May e para «La Gran Sultana» de Cervantes, dirigida por Adolfo Marsillach. Foi director musical na montagem de «El Caballero de Olmedo» de Lope de Vega, dirigido por Lluís Pasqual e Odeon-Théâtre de l’Europe.

É professor de Percussão Histórica na ESMUC (Escola Superior de Música de Catalunya).

Acompanhe a 32ª edição do Festival Internacional de Música da Póvoa de Varzim no portal municipal.