Reeditado no âmbito das Comemorações do 1º Centenário da morte de Rocha Peixoto, A Terra Portuguesa é um conjunto de 26 crónicas que o cientista poveiro publicou no jornal “O Primeiro de Janeiro”.
José Macedo Vieira, Presidente da Câmara Municipal, não deixou de frisar a “actualidade extraordinária” de A Terra Portuguesa, da autoria de “um homem enciclopédico”. “A vida é mesmo assim, repete-se”. De facto, e um pouco à semelhança do que se passa hoje em dia no país, o autarca notou que as crónicas transmitiam o sentimento de que havia a falta de entidades que desempenhassem uma política estratégica para o país, “a falta de homens que interpretassem o desígnio nacional e que tivessem a coragem de o implementar”.
Recorrendo à sua experiência profissional como médico, em que o método passa por observar, fazer o diagnóstico e tratar, Macedo Vieira fez o paralelo com a gestão do país. Mas, como afirmou, “gerir pessoas é complicado. Somos um país muito complexo, a nossa genética é muito complicada e quanto mais se estuda, mais complicada fica”, defendeu, recordando que os portugueses são uma mistura de vários povos, como celtas, visigodos, romanos, árabes. “Daí a nossa propensão natural para a ingovernabilidade. Falta-nos o desígnio, o objectivo, o rumo e falta-nos quem nos interprete isto”. Assim, o autarca considera que “o pensamento de Rocha Peixoto é actual e resistiu à prova do tempo da História”. E, como afirmou, observar e diagnosticar qualquer um consegue. Mas só os grandes líderes têm a capacidade de implementar o ‘tratamento’.

João Francisco Marques, Presidente da Comissão Organizadora da Comemoração do 1º Centenário da morte de Rocha Peixoto, explicou que o lançamento desta obra deveria ter ocorrido no fecho das comemorações. No entanto, “incidentes vários levaram-nos a adiar esse fecho para mais tarde, incluindo ele a inauguração da estátua de Rocha Peixoto, junto da Biblioteca Municipal, e uma exposição biobibliográfica sobre este grande poveiro e grande cientista”.
Elogiando a dedicação da Câmara Municipal, que “tendo há anos feito grandes celebrações a propósito do aniversário sobre o 1º centenário do nascimento, decidiu não deixar passar em silêncio esta outra data, a sua morte”, João Francisco Marques explicou que A Terra Portuguesa “dedica-se a contemplar a terra, isto é, o solo onde nós assentamos, desde o nascimento à morte, esta metrópole que é sujeita a tanto estudo e não menos controvérsia”. Situando temporalmente as crónicas, esclareceu que estas foram escritas em tempo de crise. “Estávamos em finais do século XIX, a recuperar do Ultimatum, com dois partidos em rotativismo – o Partido Regenerador e o Partido Progressista”. Esta crise, considerou, devia-se ao facto de faltarem “três respostas essenciais a um país que clamava por soluções urgentes: o problema económico, o problema do ensino e o problema energético”. Contrariedades que ainda hoje se fazem sentir no nosso país. 
“Estas são crónicas breves mas sempre variadas”, adjectivou João Francisco Marques, “e justifica Rocha Peixoto a sua reunião dizendo que ‘a desconexidade dos temas podem ser vistos pela unidade da intenção que a eles presidiu o seu tratamento’”. E como defendeu, “é uma obra didáctica que analisa e indica soluções. É um livro político, mas de um homem voltado para a realidade do seu país”.

Rocha Peixoto, ilustre poveiro multifacetado, que no seu caminho profissional foi arqueólogo, etnólogo, bibliotecário, naturalista, entre muitos outros, nasceu na Póvoa de Varzim a 18 de Maio de 1866 e faleceu em Matosinhos, a 2 de Maio de 1909, a poucos dias de completar 43 anos. A Terra Portuguesa, cuja reedição faz parte da colecção “Na Linha do Horizonte – Biblioteca Poveira”, com o número 23, foi lançada, pela primeira vez, em 1897.

A Comemoração do 1º Centenário da morte de Rocha Peixoto tem um site próprio na internet, onde pode consultar o programa e também aceder a documentos, livros e fotografias que fazem parte do acervo de Rocha Peixoto.