A exposição lembra um dos vultos maiores da
nossa literatura, que de analfabeto, aos 9 anos, se auto-instruiu, aprendendo a
ler e a escrever até ao ponto de se tornar, aos 22 anos, num autor reconhecido
e respeitado, amigo próximo e biógrafo de Almeida Garrett, que viria a
acompanhar no leito de morte.
De
facto, a vida de Francisco Gomes de Amorim podia, em si mesma, constituir
matéria de um romance, filme ou peça de teatro. E foi para falar da vida e da
profícua obra do autor, que a Biblioteca teve hoje presente, para uma conversa informal
e pública, que assinalou a abertura da exposição, o professor Manuel Gomes da
Torre, um estudioso de Gomes de Amorim.
Foi
com “As duas Fiandeiras”, romance cuja acção se desenrola em Aver-o-Mar, que
começou o interesse de Manuel Gomes da Torre por este autor e, a partir daí,
seguiu-se a leitura e a aquisição de todas as suas obras. Sobre Gomes de
Amorim, o académico sublinhou a importância da sua obra, onde é nítida a
crítica social, feita com ironia e um humor mordaz, a grande produção de peças
de teatro, todas elas representadas, o facto de nunca ter esquecido a sua
terra, que aparece retratada em grande parte da sua obra e, claro, a
extraordinária força de vontade e talento que o autor pôs na sua própria educação.
Nascido em Aver-o-Mar, em 1827, Francisco Gomes de Amorim partiu para o
Brasil, com 10 anos. Da instrução primária nada lhe tinha ficado, não sabia nem
assinar o próprio nome porque, como referiu Manuel Gomes da Torre, “ele próprio
dizia que se entretinha a brincar junto das fontes de Aver-o-Mar, que no seu
tempo existiam em grande número, e a andar aos pássaros e a escola ia ficando
para trás”. Já no Brasil, mais concretamente em Belém do Pará, onde trabalhou,
ainda menino, como caixeiro, Francisco Gomes de Amorim começou a sentir-se
atraído pela leitura que não dominava e decidiu aprender. E aprendeu tão
depressa que, em poucos meses, já lia e citava partes da “História de Carlos
Magno” e de “Os Lusíadas”. A leitura do poema “Camões”, de Almeida Garrett,
viria a ser decisiva para a profunda admiração que Gomes de Amorim viria a sentir
pelo autor. E este foi também o factor decisivo para que regressasse a Portugal
após nove anos de permanência no Brasil. Uma vez regressado, Francisco Gomes de
Amorim prosseguiu uma brilhante carreira de autor, sendo reconhecido no seu
tempo e tendo mesmo recebido o prémio Dom Fernando, atribuído pela Academia
Real das Ciências de Lisboa pelo seu trabalho sobre a vida e obra de Almeida
Garrett.
Francisco Gomes de Amorim é, pois, um autor que vale a pena ler e reler,
o que vai ser ainda mais fácil a partir do momento que a Câmara Municipal
publique a reedição de “As duas Fiandeiras”, livro que está a ser preparado,
conforme revelou o vereador do Pelouro da Cultura, Luís Diamantino, também
presente na abertura da exposição. Entretanto, os mais interessados poderão
procurar mais informação sobre Gomes de Amorim na vasta tese de mestrado
“Aprendiz de Selvagem”, de Costa Carvalho, disponível na Biblioteca Municipal.

A
edição de um Boletim bio-bibliográfico
alusivo a Francisco Gomes de Amorim, da qual faz parte uma listagem das suas
obras existentes na Biblioteca , a par da exposição, que pode ser visitada até
dia 31 de Agosto, são a forma de assinalar os 180 anos do nascimento deste
autor.