Lá dentro nem parece que se está na cidade. A
tranquilidade das sombras das árvores, os relvados tratados, o colorido das
flores, a frescura do granito que borda a casa e que está por toda a parte, nos
pavimentos, fazem deste um recanto único no meio da agitação da cidade. Os
altos muros protegem o espaço do ruído e dão-lhe a tranquilidade necessária
para ali funcionar uma biblioteca de jardim vocacionada para as crianças.

No número 68 da Avenida Mousinho, naquela que foi a casa de Manuel
Lopes, abriu esta tarde ao público a Biblioteca de Jardim, que vai funcionar
até ao dia 29 deste mês, de segunda a sexta-feira, entre as 14h00 e as 17h30.
Várias foram as crianças que, já hoje, puderam usar o novo espaço e o programa de
actividades que, às sextas-feiras, inclui a projecção de vídeos educativos e de
ficção. Presente na abertura, o vereador do Pelouro da Cultura, Luís
Diamantino, referiu a importância desta Biblioteca de Jardim, em que a cultura ganha
um novo espaço de expressão em plena malha urbana, num claro gesto de sedução e
conquista dos leitores mais jovens. Com eles irão também os pais, que serão
parte integrante deste processo de convívio com os livros, com as histórias e
até com os jogos e brincadeiras de que os mais pequenos não prescindem e que constituem
importantes processos de aprendizagem e crescimento.

Casa Manuel Lopes

A par da utilização da área de
jardim, há um programa de actividades de que fazem parte, às quartas-feiras, às
15h00, “Histórias Ilustradas aos Quadradinhos”, em que as crianças são
desafiadas a participar numa história de banda desenhada, inventando um final
diferente; “Viagem pelo jardim mágico
da Biblioteca”, uma visita diferente, com jogos tradicionais e de palavras, às
terças
e quintas-feiras, das 15h00 às 17h00; e, às sextas-feiras, também das 15h00 às
17h00, a projecção de vídeos educativos e de ficção. Hoje, para além da
projecção destes vídeos foi também mostrado um outro com vários extractos de
entrevistas com Manuel Lopes, que durante anos se dedicou como ninguém à
Biblioteca Municipal, que dirigiu, e à sua grande paixão pelos livros, pela
literatura e pela arte. Prova desta paixão pelo saber são os perto de oito mil
exemplares que constituem a sua biblioteca pessoal, entretanto inventariada e
catalogada e que se encontra dispersa pelas várias divisões da casa em que
habitou e que não vai estar, ao contrário do jardim, aberta ao público. Mas
quem lá esteve esta tarde teve o privilégio de visitar esta belíssima casa,
onde tudo está organizado, onde os livros, os quadros e os objectos de arte são
uma presença constante e onde se sente quase em permanência o peso de uma certa
sacralidade.

Num recanto criado no vão da escadaria principal há uma escrivaninha
onde uma velha máquina de escrever entala uma folha de papel, ali colocada pelo
próprio Manuel Lopes, e onde se dactilografou o belíssimo poema de Ruy Belo Oh as casas as casas as casas (O país possível, 1973) de que fica um extracto: “Só as casas explicam que
exista/ uma palavra como intimidade/ Sem casas não haveria ruas/ as ruas onde
passamos pelos outros/ mas passamos principalmente por nós/ Na casa nasci e
hei-de morrer/ na casa sofri convivi amei/ na casa atravessei as estações/
respirei – ó vida simples problema de respiração/Oh as casas as casas as
casas.”

Com a abertura da Biblioteca de Jardim na Casa
Manuel Lopes a Câmara Municipal visa alargar a oferta de actividades de
animação Infanto-Juvenil, durante o Verão. Este novo espaço é constituído por duas
áreas:  o jardim, dedicado à leitura de lazer e à realização de actividades lúdicas, onde pais e
filhos podem ler e brincar em conjunto, usando livros e brinquedos, e o espaço
interior dos anexos da casa, onde se promovem actividades de animação de leitura, de expressão
plástica,
jogos didácticos
e sessões de vídeo educativos e lúdicos. Todas as actividades são
orientadas por pessoal técnico especializado e as crianças devem permanecer
nestes espaços acompanhadas por adultos, pais ou outros familiares.