O
professor de História foi o convidado deste mês da iniciativa “À quarta (h)à
conversa” intitulada “Manuel Silva, cabouqueiro da
história local”.

Adriano Cerejeira debruçou-se, de modo aprofundado,
sobre a vida pessoal e profissional de uma personalidade poveira, que nasceu na
Póvoa de Varzim em 1869, vindo a falecer em Dume, em 1941.

Na ausência de um espólio, Adriano Cerejeira baseou-se
na ação de Fernando Barbosa (recuperação da Notícia
ou Memória do Dr. Leonardo Rodrigues e
últimos capítulos de A Evolução d’um
Município
), no Boletim Cultural da Póvoa de Varzim (publicação dos
principais artigos de carater histórico), recolha de todos os artigos e
respetiva análise da sua estrutura e do seu conteúdo para a realização da sua
investigação.

“Manuel Silva foi um interveniente local a todos os
níveis. Não havia nada a que ele não se referisse, com atualidade e
fundamentação”, revelou, explicando que a sua intervenção quotidiana abrangia:
Jornalismo, Religião, Instituições locais, Intervenção local e História e
etnografia.

Quanto ao Jornalismo, publicou 671 artigos, sendo que
266 foram n’O Comércio da Póvoa,
jornal que, em 1925, lhe prestou uma grande homenagem. Foi diretor de A Voz do Crente e aborda questões
polémicas e inovadoras para a época como, por exemplo, a isenção das agências
noticiosas.

Em relação à Religião, destaca-se pela profundidade e
coerência do seu pensamento e é muito exigente em relação ao clero e sua formação.
Defende valores como a caridade, a família, a mendicidade e o lar e
demonstra-se um profundo conhecedor da obra de S. Tomás de Aquino, divulgador
do movimento de retorno à Filosofia – Neotomismo.

Ao nível da sua intervenção local, Adriano Cerejeira referiu-se
ao tema dos Arquivos locais que Manuel Silva defende que “não devem ser
removidos para as sedes das bibliotecas estaduais” e, no caso concreto da Póvoa
de Varzim, são preciosos e têm que ficar no concelho.

O primeiro artigo de História de Manuel Silva data de
1907 – A Póvoa histórica – o corregedor
Almada
(Estrela Povoense) e
conota-se pelo rigor e método científico da história. Varazim de Jusaão nas fórmulas municipais de Herculano, Revista de
História (1915) e A evolução de um
município
, Revista de História (1917) são os trabalhos da maturidade com
influências claras de Herculano.

Adriano Cerejeira informou que Manuel Silva fez parte
da Sociedade Portuguesa de Estudos Históricos que tinha como objetivos ativar
os estudos históricos e promover a ampliação do nosso ambiente científico. Era
composta por 127 membros, objeto de uma seleção muito rigorosa e à qual Manuel
Silva pertencia desde o início e poucos mais escrevem mais artigos do que ele.
A Revista de História, publicação que procura dar corpo à Sociedade Portuguesa
de Estudos Históricos, tinha uma organização inovadora em relação às suas
congéneres, apresentando um carater teorizante ou filosofante, para a qual
Manuel Silva deu o seu contributo.

O professor de História referiu-se também ao Esquema de
História Local da autoria de Manuel Silva, “uma proposta metodológica
globalizante e inovadora” aplicado nos dois trabalhos da Revista de História.

Quanto à dimensão etnográfica, Adriano Cerejeira
apontou a grande amizade e enorme admiração de Manuel Silva por Rocha Peixoto,
a influência da Portugália, colaboração no trabalho de Fonseca Cardoso,
juntamente com Santos Graça e o facto se ser conhecedor da obra de Van Genepp,
realçando, nesta área, a sua “honestidade intelectual”.

José Macedo Vieira, Presidente da Câmara Municipal,
congratulou Adriano Cerejeira pela profundidade do trabalho apresentado e
interesse demonstrado por esta figura da nossa terra esquecida, incitando-o a “continuar
na esteira de outros investigadores e historiadores que já faleceram como
Manuel Amorim, Fernando Barbosa, Manuel Lopes, entre outros”.

O edil sugeriu que talvez não tenha sido uma personagem
reconhecida pelo facto de não ter tido intervenção política lembrando, no
entanto, que “a terra não foi ingrata com ele sendo que, em 1939, dois anos
antes de morrer, foi-lhe atribuída a Medalha de Prata de Reconhecimento Poveiro”.

O
Presidente da Câmara afirmou que “Manuel Silva defendeu valores que hoje estão
em crise. Viveu num período conturbado da nossa História, tal como atualmente,
e a sua visão pode ser útil para nós. Dá-nos alguns ensinamentos em relação à
História e a História repete-se sempre”. E porque Manuel Silva foi um “homem
imenso, que falava de tudo”, José Macedo Vieira deixa no ar a instigação a uma
futura publicação municipal da autoria de Adriano Cerejeira sobre esta
personalidade local.