De facto, a dificuldade em abordar o mote, que este ano eram versos retirados das dez obras finalistas do Prémio Literário Casino da Póvoa, foi um dos aspectos referido pela maioria dos escritores no início da sua intervenção. Mas, tal como animais que estudam a melhor forma de caçar as suas presas, os escritores empenham-se em manter o público agarrado às suas palavras, desde o primeiro ao último minuto. E mérito lhes seja reconhecido porque o Auditório Municipal mostrou-se pequeno para acolher as várias centenas de pessoas que não perdem a ocasião de assistir e ouvir a pluralidade de ideias que os convidados partilham.

“Mesmo sendo o 12º Encontro foi, de facto, aquele onde apareceu mais gente”. Foi desta forma que Luís Diamantino, Vereador do Pelouro da Cultura, expressou a grande participação do público e dos agentes ligados ao livro que durante os quatro dias acompanharam o evento. Uma vez mais se encontrou na plateia pessoas vindas de todo o país, como o caso de “cinco leitoras do Algarve que estiveram aqui os quatro dias”, revelou.

O Vereador destacou também a “presença dos editores e escritores que actuam como próprios membros da organização, e que em muito contribuem para o sucesso do evento, e ainda os jornalistas pela divulgação feita ao Correntes”.

Para além das mesas de debate, os lançamentos de livros, mais de 30, ora na Casa da Juventude, que também acolheu a Feira do Livro, ora no Axis Vermar onde decorreram igualmente sessões de poesia, foram motivo de atracção a quantos vêem nestes momentos a oportunidade de, em primeira mão, aceder às novidades editoriais na presença do seu autor e contactar com o seu escritor preferido.

O Correntes d’Escritas proporcionou ainda o encontro dos escritores com os estudantes, quer das escolas EB 2/3 e secundárias do concelho através de sessões nas escolas, quer de estabelecimentos de ensino de concelhos limítrofes, em que as sessões tiveram lugar no Diana Bar e no Museu Municipal. A vertente pedagógica é muito importante para desmistificar a pessoa do escritor que cria alguma indagação nos mais novos que, como contou Álvaro Magalhães, têm a ideia que o autor dos livros é um escritor morto. Para além disso, esta proximidade desperta para a leitura e escrita. Como notou Luís Diamantino, “o Correntes já é encarado pelos jovens como um evento que faz parte das actividades em que gostam de participar”.

Para o Vereador da Cultura e da Educação, “o envolvimento das escolas e grande interesse dos mais novos também se reflectiu na elevada participação ao Prémio Conto Infantil Ilustrado Correntes d’Escritas/ Porto Editora e no facto de virem, até de Setúbal, para receber o prémio”.

Foram quatro dias de intensas e variadas actividades culturais que contaram com 64 escritores, de 12 países, sendo que 22 participaram pela primeira vez no encontro. Destaque, ainda, para a presença de Laborinho Lúcio que proferiu a Conferência de Abertura, ao longo da qual reflectiu sobre todos os temas das mesas de debate. Mas, além dessas frases, o convidado citou inúmeros escritores, tais como, Conceição Lima, Ana Luísa Amaral, Humberto Eco, Nuno Júdice e muitos outros.

Outros momentos altos do evento foram a Cerimónia Oficial de Abertura, no Casino da Póvoa, onde foram anunciados os vencedores dos prémios literários e apresentada a Revista Correntes d’Escritas número 10, dedicada a Luísa Dacosta, e a Sessão de Encerramento, momento de homenagem a Carlos Pinto Coelho e Malangatana e de consagração dos premiados.

Como referiu Luís Diamantino, o Prémio Literário Casino da Póvoa, sendo o mais notório dos prémios literários do certame, é também factor de promoção tanto para o evento como para os vencedores como provaram as vendas notáveis alcançadas pel’O livro do sapateiro.

No decorrer do Correntes, a revista LER e a Booktailors – Consultores Editoriais também galardoaram os vencedores dos Prémios de Edição 2010, valorizando a qualidade e o profissionalismo nos sectores editorial e livreiro em Portugal.

O teatro e o cinema também marcaram presença com a apresentação da peça “Bela Dona”, de Pedro Eiras, levada a palco pela companhia Apalavrado 3, e a exibição de dois filmes, “O filme do desassossego”, de João Botelho, e “José e Pilar”, onde estiveram presentes o realizador, Miguel Gonçalves Mendes, a mulher de José Saramago, Pilar del Rio, e um representante da Fundação Saramago, Sérgio Machado Letria.

Para além do que ficou em cada de nós, o Correntes d’Escritas deixou duas exposições, “Poesia Experimental Portuguesa” da Colecção da Fundação de Serralves, na Biblioteca Municipal, até 16 de Abril, e “Rostos e Pessoas” – obras do escultor Hélder Carvalho, no Museu Municipal, até 3 de Abril.

Hoje, o Correntes está em Lisboa, para uma 10ª mesa de debate. É no Instituto Cervantes, às 18h30. “Para lá deste lugar, ninguém diz as palavras” (A Inexistência de Eva, Filipa Leal, Deriva, p. 25) dará mote a uma conversa moderada por Raquel Ochoa e que irá reunir Conceição Lima, David Toscana, Inês Pedrosa, Kirmen Uribe e Uberto Stabile.

O Correntes d’Escritas foi organizado pela Câmara Municipal, com o apoio do Turismo de Portugal. Foi patrocinado pelo Casino da Póvoa, pela Norprint, pela BMCar e pelo Axis Vermar. Contou ainda com o apoio da Porto Editora, da Papelaria Locus, do Instituto Cervantes, da Embaixada do México, do Ministério da Cultura da Argentina, e teve como parceiros privilegiados o Booktailors – Consultores Editorais, a revista LER, o Jornal de Letras, a Universidade do Porto, o Cineclube Octopus e o Varazim Teatro.

Reviva todos os momentos do 12º Correntes d’Escritas, aqui.