Provando o sucesso
deste projecto, enquadrado no programa de itinerâncias da Direcção Geral do
Livro e das Bibliotecas, foram muitos os pais, educadores e demais agentes
educativos que quiseram estar presentes, ultrapassando as 25 presenças
previstas, surpreendendo o próprio Nuno Lopes, o “formador” destacado para
iniciativa e que, a par do seu irmão Filipe, está na génese deste grupo que
nasceu em Tomar há 15 anos atrás.

A Oficina de
Sobrevivência, explicou Nuno Lopes, tem como objectivo motivar para a leitura e
conto de histórias sendo que a partilha de experiências é um dos ingredientes
indispensáveis para o sucesso da sessão. Começando por descrever a evolução do
papel de contador de histórias, Nuno Lopes fez ver que é um papel que desde
cedo dependeu da oralidade, em que as histórias eram transmitidas de pais para
filhos em serões nos quais a televisão era ainda uma realidade bem distante. A
dificuldade de aceder a livros infantis há 30 ou 40 anos atrás e o surgimento
da televisão vieram dificultar o trabalho do contador de histórias que, no
entanto, conheceu novo ímpeto com o surgimento das bibliotecas públicas que
passaram a incluir espaços dedicados especialmente aos mais novos, sendo disso
exemplo actividades como a Hora do Conto.

No entanto, Nuno
Lopes alertou para dois aspectos fundamentais na hora de assumir o papel de
contador de histórias: o público e o livro. “O contador de histórias tem que se
adaptar ao público”, avisou Nuno Lopes que, no que respeita à escolha de
livros, aconselhou a ter cuidado com os livros de hipermercado e com aqueles
que não incluem o nome do autor. As histórias “politicamente correctas” da
Disney mereceram também reparos por parte de Nuno Lopes, avisando, no entanto,
que as escolhas dependem dos pais e também das crianças que, no entanto, não
devem ser obrigadas a ler, aconselhado, a este respeito, o livro O menino que não gostava de ler, de
Susanna Tamaro.

E se no acto de
contar uma história reside também o acto de partilhar afectos, o momento pode
também servir para tratar de temas «difíceis». Aqui, como em tudo, Nuno Lopes
pediu bom senso na escolha da história, aconselhando alguns livros como Para onde foi o Zezinho, um livro que se
enquadra na educação para a sexualidade.

Contar uma história
pode ser muito mais do que isso, ou, como explicou Nuno Lopes, pode abrir
portas à imaginação, dando a possibilidade aos contadores de histórias de
trabalhar o conto. Dando como exemplo a história do Capuchinho Vermelho, da
qual se conhecem vários finais diferentes, Nuno Lopes aconselhou a leitura das
versões canónicas de histórias dos Irmãos Grimm, de Hans Christian Andersen e
de Charles Perrault que podem, depois, ser trabalhadas.

E tendo em conta que
todas as crianças são diferentes, Nuno Lopes avisou que não existem livros para
uma certa idade: cabe aos pais perceber para que tipo de livro está o filho
preparado.  

A Oficina de Sobrevivência
contou ainda com uma vertente prática com o objectivo de melhorar a
expressividade na “hora do conto”. Tendo como base a história O Nabo Gigante, de António Mota, os
presentes foram convidados a assumir o papel de personagens do livro, teatralizando,
assim, o conto.

contar historias

O grupo O Contador
de Histórias nasceu há 15 anos em Tomar. Tudo começou com um programa
radiofónico onde se lia poesia. Terminado o programa, o grupo decidiu continuar
a divulgar poesia, quer através de espectáculos, quer através de acções de
formação como esta desenvolvida na Póvoa. Explicando que o grupo trabalha com
todas as idades, “desde crianças a idosos”, Nuno Lopes começa já a ver o fruto
de 15 anos de trabalho: “notamos, cada vez mais, que os jovens não estão
desligados do livro. Eles são bombardeados com audiovisual e os livros dão-lhes
a oportunidade de libertar a imaginação”.

A Oficina de Sobrevivência para Pais Contadores de
Histórias é um dos casos de sucesso do grupo. Em três anos de existência, já
foram organizadas mais de 150 sessões por todo o país.