Aberto todo o dia, até à
meia-noite, o edifício recebeu centenas de visitantes, entre os utentes
habituais e outros, atraídos pela emissão de rádio ao vivo que ali decorreu
durante grande parte do dia, pelas exposições, de onde se destaca aquela que
permite ver alguns dos livros mais antigos que a Biblioteca possui e que ainda
pode ser visitada até ao fim deste mês, e pelas ofertas associadas àqueles que
quiseram subscrever o cartão de leitor. Ontem, os cartões de leitor eram
emitidos de imediato e havia ofertas de livros associadas, o que fez com que,
até à meia-noite, a Biblioteca tivesse ganho 40 novos leitores.
A noite foi feita de histórias,
contadas por pessoas bem conhecidas da comunidade e que aceitaram partilhar
algumas das suas experiências de vida para, através delas, conduzirem uma
visita guiada à Biblioteca e a alguns dos seus tesouros, de uma forma bem
diferente do habitual. Conceição
Nogueira, professora e actualmente a dirigir as edições do Boletim Cultural,
revelou um pouco mais sobre Flávio Gonçalves, através da partilha de alguns dos
postais que este lhe enviou, nos anos 80. 
O sentido de humor e a dedicação de Flávio Gonçalves ao Boletim
Cultural, que então dirigia, e à Póvoa, ficaram bem patentes nas palavras que deixou
nesses postais com mais de 20 anos de existência.

dia mundial livro

Abel Carriço, a desenvolver uma
pesquisa sobre o Orfeão Poveiro, explicou a importância da digitalização dos
periódicos poveiros, feita pela Biblioteca Municipal, para sustentar o seu
trabalho. A facilidade de consulta foi um dos aspectos destacados por este
professor de música que baseia grande parte da sua pesquisa neste património da
Biblioteca e que, referindo-se ao passado, aproveitou para lembrar a grande
tradição musical da Póvoa de Varzim, cidade que, já no século XIX, recebia
orquestras e artistas conhecidos, que vibrava nos cafés e onde não faltavam
grupos musicais.
Professor, investigador e colaborador
do Boletim Cultural, Manuel Gomes da Torre falou de Bernardino Gomes da Ponte,
poveiro nascido em 1851 e falecido em 1917, sobre o qual está a fazer uma
pesquisa para melhor perceber o papel deste homem na sua época. Referido na
imprensa local da sua época e com uma história de vida bastante curiosa,
Bernardino Gomes da Torre parece ter tido um papel importante, tendo deixado
poesia escrita e parecendo ser, como afirmou o investigador, um homem bastante
apreciado na comunidade, mas cujo percurso de vida não está perfeitamente
desvendado.

dia mundial livro 01

Passando para a sala de leitura, o
grupo de visitantes sentou-se para ouvir o proprietário da quase centenária
Tipografia Camões, António Batista de Lima, falar do mais antigo livro impresso
em Lisboa, em 1489, e do qual ele fez também uma edição. No seu relato, o
tipógrafo explicou  a dificuldade em
reproduzir “Comentários ao Pentateuco”, de Moses ben Nahman, uma obra com mais
de 600 páginas, escrito em hebraico, portanto, lido do fim para o início, cujo
exemplar original se encontrava no Paço Ducal de Vila Viçosa, e que teve que
ser todo microfilmado para depois se poder compor e imprimir, uma realidade bem
distinta da actualidade, em que a informática veio facilitar e acelerar todos
os processos. A terminar, António Batista de Lima contou ainda as histórias
relacionadas com a vigilância da Pide sobre a sua tipografia, depois de ali se
ter imprimido “O Canto e as Armas”, de Manuel Alegre, então no exílio. “Marcello
Caetano – confidências no exílio”, de Joaquim Veríssimo Serrão foi outra das
obras de relevo, que saíram da sua tipografia e que vendeu 80 mil exemplares em
Portugal e dez mil no Brasil.
A visita nocturna terminou no depósito
da Biblioteca, local que o público nunca vê e que alberga um espólio admirável,
de onde se destaca a biblioteca pessoal de Flávio Gonçalves, com mais de cinco
mil e 500 livros, adquirida pela Câmara Municipal, bem como a colecção de
livros de Alexandre Pinheiro Torres, também adquirida pela autarquia. As
colecções pessoais de Santos Graça e de Rocha Peixoto, bem como de Manuel
Lopes, que não se encontra guardada na Biblioteca, mas que faz parte do seu
acervo, são outras das preciosidades que exigem um cuidado especial na
catalogação e manutenção, o que só é conseguido com a dedicação diária de quem
trabalha com todos estes livros.

dia mundial dança 02

Para
quem quiser ter uma ideia da dimensão e do valor do espólio da Biblioteca
Municipal, está patente na área de exposições do primeiro piso uma mostra
intitulada “Tesouros da Biblioteca”, onde é possível ver o exemplar mais antigo
ali guardado, a “Constituição do Arcebispado de Braga”, de 1538, a “Chronica do
emperador Clarimundo”, de João de Barros, de 1791, ou a “Carta de Guia dos
Casados”, de Francisco Manuel de Melo, de 1747. Em exposição estão também escritos
mais pessoais, como os cadernos de notas e desenho de Rocha Peixoto, de
1897/98, e os testamentos de Rocha Peixoto (1907) e de Gomes de Amorim (1890).