Canibalírico, de Renato Filipe Cardoso, editado pela Texto Sentido; Causas da decadência de um povo no seu lar, um trabalho conjunto entre João Rios, Pedro Teixeira Neves, Renato Filipe Cardoso e Rui Tinoco, pela Edita-me; Dias Ícaros, de Pedro Teixeira Neves e Susana Paiva, edição de autor; Livro do Amo, de João Pedro Azul e João Concha, pela Flan de tal; e O Osso da Tristeza, de João Rios, pela Edita-me.

A sala do Hotel Axis Vermar onde decorreu esta sessão de lançamentos de livros estava cheia, mas este é já um dado adquirido em qualquer iniciativa relacionada com o Encontro de Escritores de Expressão Ibérica.

Pedro Teixeira Neves apresentou Canibalírico, de Renato Filipe Cardoso. “como poderei autopsiar um livro de poema num país de poetas? Não podendo autopsiar o poeta, para o poder ler por dentro, nada nos resta senão pegar no livro e abri-lo lentamente com a precisão cirúrgica com o bisturi dedo a que chamamos coração. Será esse o primeiro passo para tomar o pulso. Há por aí muita poesia que pula mas não pulsa. Apetece dizê-la em voz alta? Ler aos outros? Então temos poema. Os títulos, quando bem escolhidos, dizem tudo ou quase tudo.

O que é afinal um Canibalírico? Alguém que vive em sede, na sede do dizer poético, do seu perscrutar constante. Alguém que procura encontrar-se no seu reverso”.

Causas da decadência de um povo no seu lar é um conjunto de 40 poemas e uma ideia de Pedro Teixeira Neves que, inclusivamente, é o responsável pela capa do livro, uma fotografia da sua autoria.

João Rios esclareceu que não há nada melhor do que rirmo-nos de nós, das nossas misérias e das nossas vitórias. “Para além da literatura, proponho o humor como a verdadeira arma de arremesso contra este tempo de crise que o país atravessa”. Escrever poesia com humor para este projeto foi tão aliciante que o autor prometeu voltar ao Correntes d’Escritas, em 2016, para lançar um livro “para rir e sorrir”.

Causas da decadência de um povo no seu lar surgiu de Pedro Teixeira Neves: “penso que existe pouca poesia de intervenção no nosso país. A poesia também se quer acutilante”.

Dias Ícaros trouxe novamente Pedro Teixeira Neves às falas. Apenas com 50 exemplares editados, a obra tem como temática os suicidas e conta com uma parceria entre o escritor e a fotógrafa Susana Paiva. Cada um dos 50 exemplares conta com uma fotografia original e única.

O caráter teatral do Facebook e a limitação expressiva de um simples “Gosto”, foram os motores da criação deste jogo de afetos entre palavras e imagens que estão na génese do Livro do Amo, contou João Pedro Azul. João Concha dá cor e cria um jogo visual com as frases do escritor. O ilustrador, tal como um tradutor, pretendeu com este trabalho ser um complemento às palavras de João Pedro Azul. “É desse diálogo que nasce este livro”, explicou João Concha.

Todas as frases do Livro do Amo começam com a palavra amo e cada frase está no plural, com três ideias que a preenchem.

João Rios apresentou O Osso da Tristeza. O escritor de Vila do Conde estava na lista de finalistas do Prémio Casino da Póvoa (entretanto atribuído a Fernando Echevarria) com a obra Aprendizagem balnear. “Cai a tristeza como pedra que pergunta de que somos capazes. Eis o que se pode descobrir no silêncio dos versos de O Osso da Tristeza”.

Após o lançamento dos livros decorreu a apresentação no número 7 da revista Flanzine e do número 3 da revista Gerador.

Quando projeto FLANZINE teve início, em maio de 2013, tinha tudo para correr mal: tropeçar num buraco orçamental, ou embater num poste plantado por tecnoburocratas mercantilistas; mas, contrariando as leis de Murphy e Keynes, a revista acabou por se materializar. Uma revista inspirada na memória dos velhos fanzines, idealizada no Facebook por dois amigos virtuais, João Pedro Azul e Luis Olival, navegadores cibernéticos unidos na ressaca de uma geração florescida em Abril que sobrevive através do humor negro.

Este é um número onde participam algumas das vozes poéticas mais interessantes a expressarem-se, hoje, na nossa língua. Autores como Miguel Cardoso, Miguel Martins, Nuno Moura, João Almeida, Catarina Nunes de Almeida, Cláudia Lucas Chéu, Filipa Leal, Cláudia R Sampaio, Margarida Ferra, Inês Fonseca Santos, Valério Romão, entre outros.

Lançada em Julho de 2014, a Revista Gerador é uma revista trimestral com informação sobre toda a cultura portuguesa, aquilo que nos identifica e alimenta a nossa autoestima. Não sendo apenas para portugueses, tem um design completamente diferente a cada número, com secções de BD, teatro, gastronomia, cinema, música, um romance policial coletivo com novos episódios a cada número e até fotonovelas feitas por bailarinos e atores. Sempre com trabalhos inéditos de autores conhecidos e desconhecidos, sugestões de sítios a visitar, e locais onde comer ou experimentar a cultura portuguesa. 

Neste número 3 há pessoas, edifícios, ideias, profissões e até coisas que começaram vidas novas. “Para os que começaram de novo, esta é a nossa homenagem. Como os portugueses começam de novo em Portugal e no mundo, com destaque para um novo episódio do nosso romance, do escritor João Tordo, uma exposição fotográfica de portugueses em Londres ou uma BD inédita sobre um Super-Freelancer”.