O tema de Janeiro incidiu sobre Manuel Ribeiro de Castro, conhecido
como Abade de Navais, mais precisamente sobre a sua acção política na Póvoa de
Varzim.

O
palestrante convidado contou que o seu interesse por esta personalidade foi
aguçado por Manuel Lopes, que lhe falou de um padre político e da importância
de se fazer um estudo sobre ele, e pelo Monsenhor Manuel Amorim, que indicou os
passos a seguir para a realização deste trabalho.

Consultando
os jornais e as actas da Câmara Municipal da época, Fernando Souto descobriu um
homem que “não temia as polémicas de natureza política, mas que muito fez pela
Póvoa de Varzim”. Vice-Presidente da Câmara Municipal entre 1905 e 1908, o
Abade de Navais foi o responsável pela reforma dos Paços do Concelho, sob a
orientação de Rocha Peixoto. Neste espaço existiam a Biblioteca, o Liceu, a
cadeia e os serviços municipais. Percebendo que a proximidade entre os
estudantes e os presos não era benéfica, e visto que o rés-do-chão da Câmara
não oferecia condições mínimas aos reclusos, o Abade de Navais conseguiu
construir a “Cadeia Camarã”, edifício entretanto demolido.

Durante
as suas pesquisas, Fernando Souto encontrou “uma escrita irónica nos textos do
Abade de Navais”. Membro do Partido Progressista, Manuel Ribeiro de Castro
manteve sempre uma difícil relação com o jornal Estrela Povoense, simpatizante do Partido Regenerador. Era no
jornal O Liberal, do seu partido, que
o Abade de Navais refutava e argumentava.

Mas, a
sua intervenção na Póvoa de Varzim foi mais que política. Com Rocha Peixoto,
David Alves e António Silveira formou uma comissão para estabelecer,
definitivamente, que o escritor Eça de Queiroz nasceu na Póvoa de Varzim, ao
contrário do que afirmava a vizinha Vila do Conde. Foi o primeiro presidente da
direcção d’A Beneficente e sócio do Clube Naval Povoense e do Sindicato
Agrícola.           

Durante o período do
exercício do seu múnus paroquial foi construída a Capela de Santo António do
Cruzeiro, ao mesmo tempo que se abria, graças ao seu redobrado empenho, parte
da Estrada Distrital nº 7 ou, mais conhecida como a Estrada de Prelades a Fão.
Escreveu vários artigos com argumentos favoráveis ao descanso dominical,
apoiando a campanha desenvolvida a nível nacional entre 1903 e 1907. Em 1910
adere naturalmente à República, assim como o seu partido.

Segundo Fernando
Souto, em 1923, após confrontos entre a comunidade de Aguçadoura e Navais, que
levou à interdição do culto na sua freguesia, a saúde do Abade de Navais
enfraquece e este acaba por falecer em Setembro. Os jornais da época noticiam o
seu falecimento e a falta de comparência da população no seu funeral. Sobre
este facto, Fernando Souto explicou que esta ausência se devesse ao
encerramento da Igreja de Navais e as cerimónias fúnebres de Manuel Ribeiro de
Castro tivessem que ter sido realizadas noutra freguesia.

O “À quarta (h)à conversa” regressa em Fevereiro,
no dia 16, com Armando Marques e o tema “O Carnaval na Póvoa de Varzim”.