Com moderação de Maria Armandina Maia, os escritores Amílcar Bettega, Ângela Ramos Diaz, Germano Almeida, Héctor Abad Faciolince, Hélder Macedo e Teolinda Gersão falaram dos sentimentos que associam ao acto de escrever, quando estão perante a “folha em branco”.

Quando se começa a escrever, “a folha em branco” é encarada de diferentes formas. Há quem escreva “contra o vazio e no vazio”, como o escritor brasileiro Amílcar Béttega, assumindo uma escrita “magra, rarefeita, a conta-gotas. Escrever é um pouco isso, um caminho torto” em que está sempre presente “a inquietação da busca por algo diferente”.

Para Ângela Ramos Diaz, podem conjugar-se “desânimo ou euforia” e temor que resulta de “forçar” a “inspiração”, sendo certo que “falar do branco sobre o branco é como falar do abismo caindo nele”.

Assumindo uma atitude diferente, Germano Almeida contou não sentir angústia quando começa a escrever. “Tenho tantas coisas para fazer que quando não consigo escrever levanto-me e vou fazer outra coisa”, disse o escritor de Cabo Verde que é advogado de profissão e escreve “nas horas vagas”.

Pela primeira vez em Portugal, Héctor Abad Faciolince, colombiano, 50 anos, protagonizou um momento de bom humor que envolveu a plateia, brincando com o facto de não falar nem entender português. “Não me sento à espero que uma voz me dite algo. Quando me sento é porque já tenho uma ideia inicial, um personagem”, afirmou Faciolince recordando que a freira que foi sua ama dizia que temos no nosso ombro direito um anjinho branco que nos diz as coisas boas e no esquerdo um diabinho vermelho que nos sussurra as coisas más. Os nomes podem ser diferentes: a falta de modéstia e a autocrítica, mas, para Faciolince, a escrita “é um combate permanente entre os dois”.

Quando escreve, Hélder Macedo começa por uma “ideia nuclear, que geralmente é uma pessoa”. Depois, “a maior dificuldade é não escrever com páginas a mais” referiu destacando a importância dos “hiatos” que “são no fundo a coisa mais importante em linguagem”.

2ª mesa

Rejeitando incluir-se em formatos ou padrões, Teolinda Gersão contou que não dispensa “aquela alegria das crianças, esse lado lúdico, de experimentação” que por sucessivas tentativas levam o escritor a “transmitir o seu olhar”. É como se a página em branco fosse uma “parede que nós na melhor das hipóteses conseguimos transformar num vidro”.

Num Auditório Municipal lotado encontraram-se gerações distintas: gente de cabelos brancos e jovens (da Escola Secundária Eça de Queirós e da Escola Profissional do Minho, em Viana do Castelo) que puderam confrontar-se com as angústias e as alegrias dos autores diante da “folha em branco”.