Póvoa de Varzim, 07.03.2008 - Aspectos curiosos e provavelmente pouco conhecidos do homem que reinou durante 46 anos e que constituiu o tema da conferência que José Augusto de Sotto Mayor Pizarro levou ontem à noite ao Arquivo Municipal, no âmbito das comemorações dos 700 anos da outorga do foral de D. Dinis à Póvoa de Varzim.
De barba e cabelo ruivo, provavelmente olhos
claros e 1,64 metros de altura, assim seria, em traços largos o rei D. Dinis,
que morreu aos 64 anos, em Santarém, possivelmente vítima de um acidente vascular
cerebral. A análise do corpo do monarca, enterrado em Odivelas, permitiu ainda
ver que não tinha uma única cárie e relatos históricos comprovam que terá
pegado em armas, pouco antes de falecer, em batalha contra o próprio filho,
Afonso IV, o que revela que seria um homem de grande saúde e força física. Era
um amante da caça, sobretudo com aves de rapina, tendo uma grande predilecção
por falcões, ao ponto de os mencionar nos três testamentos que deixou, através
de disposições para que fossem feitas doações aos falcoeiros, que deveriam
garantir o bem estar das aves.
Aspectos curiosos e
provavelmente pouco conhecidos do homem que reinou durante 46 anos e que
constituiu o tema da conferência que José Augusto de Sotto Mayor Pizarro levou ontem
à noite ao Arquivo Municipal, no âmbito das comemorações dos 700 anos da
outorga do foral de D. Dinis à Póvoa de Varzim.
Autor de uma biografia
sobro o monarca português, o historiador abordou vários aspectos da vida de D.
Dinis, revelando às pessoas, que lotaram a sala do Arquivo, um rei
extraordinário, que promoveu a cultura, o ensino, o povoamento e organização do
território nacional, reforçou as fronteiras, recém estabelecidas no Tratado de
Alcanices (mais de 90 por cento das fortalezas e castelos de fronteira foram
mandadas fazer por este rei), teve uma impressionante política legislativa (é
por sua iniciativa que ainda hoje os tribunais atribuem um advogado a quem não
tem dinheiro para pagar a sua defesa), impôs a língua romance a todos os
documentos administrativos, assegurou o controlo do património das ordens
militares, cujas cúpulas se encontravam em Castela, e procurou controlar a
nobreza. Com o reino de Aragão estabeleceu uma aliança estratégica, casando com
Isabel e aliando-se ao cunhado, Jaime de Aragão, com o qual conseguiu fazer
frente a Castela.
Aquele que foi o sexto rei
de Portugal é, para José Augusto Pizarro, um monarca injustamente lembrado por
um cognome que não serve a grandeza da sua figura: O Lavrador. Na opinião do
historiador, D. Dinis é ainda lembrado certamente pela maioria dos portugueses
como o rei do Pinhal de Leiria e do milagre das rosas, o que abafa a real
dimensão, não só do monarca como da sua governação. Estes conhecimentos do senso
comum impedem ainda a perspectiva da real importância de Portugal no Europa dos
séculos XIV e XV, uma Europa mergulhada em conflitos como a Guerra dos Cem
Anos, enquanto Portugal se vira para fora das suas fronteiras e assegura o
controlo de uma série de praças no norte de África.
D. Dinis atribui à Póvoa de
Varzim o foral em 1308, a última vez que esteve no norte do país, e, para José
Augusto Pizarro, a cidade deveria sentir-se orgulhosa de ter recebido um tal
documento das mãos de um rei verdadeiramente extraordinário, que para além de
toda a sua acção governativa ainda encontrou tempo para escrever, sendo um dos
maiores poetas do cancioneiro ibérico.
A conferência “A concessão do foral da Póvoa de Varzim no contexto geral
do reinado dionisino” inseriu-se nas comemorações que prosseguem este domingo,
dia 9, dia da concessão do foral, em que alunos do Grande Colégio de Amorim
fazem a teatralização da outorga do documento, no Auditório Municipal, às
15h30.