A investigadora e professora do Departamento de Ciência da Informação da Faculdade de Letras da Universidade do Porto foi convidada pelo Arquivo Municipal para encerrar o dia em que pela primeira vez se celebrou o Dia Internacional dos Arquivos.

Manuela Pinto alertou para a urgência de um novo posicionamento em relação aos arquivos e arquivistas na conservação da informação lembrando que a preservação deve ser assumida como uma variável da gestão da informação e vice-versa. É necessária a mudança de paradigma e a construção da Ciência da Informação onde informática e computação e ciências sociais e humanas se interliguem, acrescentou a investigadora, afirmando que o novo paradigma tem de ser pós-custodial, com um papel activo e informacional.  A informação enquanto processo inclui o comportamento informacional e um conjunto subjacente de “etapas” e para conhecer o Sistema de Informação temos que conhecer o contexto organizacional e é necessário que se assegure a existência de informação autêntica, fidedigna, íntegra, inteligível e utilizável garantindo o uso dessa informação e a materialização das actividades da organização a médio e longo prazo, afirmou a palestrante.

Manuela Pinto disse ainda que nos encontramos num momento de viragem, em plena Era da Informação, e é preciso reequacionar a estrutura organizacional mas tendo em atenção que as tecnologias não a solução, constituem antes um meio. As tecnologias obrigam a enquadrar a produção e uso da informação bem como a perceber o meio digital e a actual virtualidade dinâmica da informação e do processo info-comunicacional, informou a investigadora, adiantando que a informação é um activo incontornável para as organizações em todas as fases do seu ciclo de vida.

A investigadora lembra que com a generalizada utilização das Tecnologias da Informação e da Comunicação, tanto nas empresas como na administração pública, os documentos nos mais variados suportes chegam até nós em formato digital, outros são actualmente gerados em meio digital e disponibilizados via sítios web e há ainda outra informação que é produzida via interface web e armazenada em bases de dados.

Manuela Pinto manifestou a sua preocupação perante a excessiva desmaterialização lembrando que com iniciativas como o Simplex as actividades sustentam-se cada vez mais na produção nado-digital, o que pode ser aterrador pois se não estiver acautelada a preservação da informação pode mesmo levar à sua obsolescência. “Os sítios web são constantemente actualizados mas… teremos, no futuro, acesso a essa informação?”, questiona a professora preocupada com a adulteração e perda da informação. A este propósito, Manuela Pinto lembra a citação “armazenar a informação digital assemelha-se à preservação de uma chama: temos que cuidá-la constantemente, mantê-la” e este trabalho deverá ser feito numa actividade conjunta entre arquivistas, técnicos de informática e gestores da informação.

Este é também o apelo lançado pelo Conselho Internacional de Arquivos que na sua “visão estratégica” para o período de 2008-2018 anuncia que é preciso “ajudar os arquivistas a fazer a mudança de paradigma, isto é, passar de conservadores de documentos históricos a Gestores da Informação, uma função chave quer para o sector público, quer para o sector privado”.

sessão arquivo

O Dia Internacional dos Arquivos foi celebrado pelo Arquivo Municipal com outras iniciativas que decorreram durante o dia entre as quais se encontra uma exposição sobre os sete anos de actividade ao serviço da comunidade poveira intitulada “A Casa da Memória: Um arquivo co(n)vida”. Para além disso, este foi o dia escolhido para o lançamento do novo guia do Arquivo Municipal, com uma nova edição actualizada e melhorada e para a apresentação do número 3 do Jornal “A Voz da Lunetas”, editado on-line. Estes documentos podem ser consultados no portal municipal, onde poderá também navegar e ficar a conhecer na nova estrutura do sítio do Arquivo. A extensão educativa do Arquivo promoveu ainda, durante a tarde, sessões pedagógicas dirigidas às escolas do concelho sobre a importância dos arquivos na comunidade.

Com o Dia Internacional dos Arquivos, comemorado em todo o mundo e ao qual o Arquivo Municipal se associou, pretende-se por um lado chamar atenção dos decisores que a salvaguarda dos registos é a condição essencial para a boa governação e transparência; por outro, enfatizar a importância da preservação dos arquivos para a memória colectiva e sobretudo, pretende-se encorajar todo um universo de utilizadores potenciais que nunca utilizou um Arquivo a fazê-lo pela primeira vez. Enfim, reconhecer a importância dos arquivos, e em última análise, dos arquivistas junto da população em geral, e dos media em particular.

O dia 9 de Junho foi instituído como Dia Internacional dos Arquivos na última reunião anual do CIA (Conselho Internacional de Arquivos). Foi escolhida esta data, por ter sido precisamente a 9 de Junho de 1948, que a UNESCO criou o CIA.