João Rasteiro e Ivo Machado apresentaram os seus mais recentes trabalhos, Levedura e Oratória, respetivamente, e João Pedro Azul lançou a edição Obscenum da Revista Flanzine. As Galerias Euracini 2 foram o local escolhido.

Em Levedura João Rasteiro oferece-nos uma trilogia da perfeição que o poeta, em subtítulo, designa “… do Silêncio”. Com este novo livro João Rasteiro alicerça na casa, no corpo e no silêncio a fonte porventura mais fecunda da sua poesia.

Como se lê, aliás, neste livro:

“A casa é só corpo e silêncio levedado,

se não estiver aqui, não me busques noutro lugar,

o corpo é o que se oferece à casa nos alicerces.”

João Rasteiro é poeta e ensaísta e licenciado em Estudos Portugueses e Lusófonos pela Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra.

Em Oratória Ivo Machado desvenda ao leitor o caderno da sua mais recente vigília numa oratória onde todos os grandes temas da poesia estão presentes. Fiel à sua memória, o poeta convida a uma viagem pelas cousas utópicas como se cada um destes quarenta e quatro poemas fosse um ano da sua vida.

A Revista Flanzine lançou mais um número: Obscenum. Marta Bernardes e Afonso Cruz ajudaram João Pedro Azul na apresentação desta edição. Num gesto suicida, lancei o desafio a um amigo do Facebook – Luís Olival -, de criar um fanzine. Ele acalentou a ideia com entusiasmo, e isso foi o empurrão que precisava para me lançar neste abismo. Eu que apenas tinha tido a experiência, num longínquo 8º ano, de criar um jornal com os colegas de turma, na escola. “Embora o Luís imaginasse a coisa apenas online, eu só pensava no papel”, recorda o fundador.
Nos anos seguintes, associou-se ao projeto muita “gente de áreas bem diversas: cinema, teatro, literatura, ilustração, música.

Maria do Rosário Pedreira foi a convidada da sessão EC.ON – Escola de Escritas, uma entidade vocacionada para o trabalho oficinal da “escrita criativa” com sede em Évora. A maioria da oferta é online (perto de noventa cursos ministrados por mais de vinte escritores de língua portuguesa), embora não se limite ao campo literário (com cursos noutras áreas).

A par da vasta oferta online, desenvolve igualmente sessões presenciais, de que são exemplo os “Cursos Ícone” (aos sábados, desde Janeiro de 2014, um escritor apresenta-se na sede da escola para falar sobre os seus processos de criação literária).

Nesta 20ª edição do Correntes d’Escritas existem sessões EC.ON e a de ontem teve como protagonista a editora e poeta.

Maria do Rosário Pedreira é a autora do livro juvenil Portuguesas Extraordinárias. E foi com esta obra que a conversa começou. A autora afirmou que ao longo da História várias foram as mulheres que se rebelaram contra convenções e obstáculos e alcançaram feitos incríveis que mudaram Portugal e o mundo. A investigação para a escrita do livro foi um trabalho que deu satisfação a Maria do Rosário Pedreira: descobrir tantas mulheres extraordinárias foi algo que me deu prazer. Este livro celebra portuguesas que se destacaram em diferentes áreas, da política às letras, da arte ao empreendedorismo. 

Apesar de ter vários trabalhos dedicados ao público infanto-juvenil, Maria do Rosário Pedreira confessou que não são livros especialmente literários mas sim uma missão para tornar as crianças e os adolescentes em leitores.

É na poesia que a convidada se destaca. E, para ela, um livro de poesia não deve ser um repositório de poemas escritos em determinado período de tempo: “tento que os meus livros contem histórias, todos os poemas são pequenas ficções, há uma linha condutora, uma coerência entre os poemas”.

A escrita de letras para músicas também é uma das áreas em que Maria do Rosário Pedreira dá cartas. O primeiro convite surgiu de Carlos do Carmo. O fadista pretendia fazer um álbum tradicional com letras de poetas contemporâneos. A autora disse gostar de escrever apenas para cantores que conhece pois o fado tem que fazer sentido para quem o interpreta e somente conhecendo os fadistas se consegue essa conexão.

Esta conversa teve lugar no Hotel Axis Vermar.

Já no Cine-Teatro Garrett passou o filme “Raiva” e o realizar, Sérgio Tréffaut, esteve presente para uma conversa com o público. A película é uma adaptação de Seara de Vento, de Manuel da Fonseca, um clássico da literatura portuguesa do século XX. O filme acontece no Alentejo, em 1950. Nos campos desertos do Sul de Portugal, fustigados pelo vento e pela fome, a violência explode de repente: vários assassinatos a sangue frio têm lugar numa só noite. Porquê? Qual a origem dos crimes?

“Raiva” mostra mais uma vez como o poder dos ricos serve para assegurar a continuidade da diferença entre as classes sociais. “Assumi fazer um filme fora de moda, a partir de um livro fora de moda. Fala apenas da impossibilidade de sair de um buraco: falta de dinheiro, falta de comida, falta de casa, falta de estudos. A impossibilidade de sair de um buraco existe hoje como nos anos 50 e nos anos 30. Não faz falta fazer paralelos”.

Ao adaptar Seara de Vento “tentei limpar os diálogos de todas as explicações, de toda a cartilha ideológica. Aqui, os mortos são apenas mortos, não são heróis nem símbolos. Creio que o espectador tem de pensar sem a ajuda de um padre, sem a tutoria de manuais políticos ou a facilidade dos violinos manipuladores para decidir o que sente. Ficou um filme silencioso, em que as caras e os corpos dizem mais do que os discursos”.