O conferencista foi convidado para, pela
terceira vez consecutiva, fazer a abertura deste ciclo que durante o mês de
Maio atrai centenas de pessoas à Igreja Românica de S. Pedro de Rates para
assistirem a concertos de música sacra de elevada qualidade. O tema repete-se
nesta terceira lição e José Maria Pedrosa começou por lembrar que
«da essência do cantochão, em todas as suas
espécies – desde o siríaco-bizantino ao gregoriano – faz parte uma simplicidade
linear nascida no ambiente celebrativo dos primeiros cristãos e logo
enriquecida esteticamente com o gosto e o fervor das assembleias cristãs em
solo doméstico, basilical ou monástico”. Este chão musical em nada contradiz a
prática de uma polifonia natural, porventura desde sempre mas mais documentada
a partir do século IX. A experiência do canto dentro da própria Liturgia originou
lentamente uma prática artística inovadora assente no próprio cantochão e teimosamente
reiterada através da Idade Média, não sem a vigilância eficaz dos príncipes da
Igreja, continuou José Maria Pedrosa.

O especialista em Ciências Musicais
Históricas revelou ainda que “o culto de uma polifonia sacra
esplendorosa por toda a Cristandade nos séculos XV e XVI, em reflexo natural da
proliferação das artes visuais e da própria música profana, não destronou o
canto gregoriano, antes o assumiu e revestiu de beleza transcendente em ordem a
uma liturgia misticamente vivida”. Através de uma cumplicidade estética,
verificou-se uma alternância pacífica entre gregoriano e polifonia com a
integração de temas gregorianos na polifonia sacra que o conferencista ilustrou
com o Magnificat e as Completas.

Com esta conferência,
José Maria Pedrosa procurou justificar e preparar os programas dos concertos
que integram Ciclo, utilizando o mais possível exemplos gravados como foi o
caso das Vésperas da Virgem Santa Maria, de Monteverdi, peça que será
interpretada a 17 de Maio pelo
Grupo
de Câmara Vocal e Instrumental de Esposende.

Espera-se, desta
maneira, que todos os ouvintes fiquem a conhecer melhor a essência do canto gregoriano
e da polifonia sacra na época do seu apogeu, reconhecendo que a dependência e
coexistência de ambos os géneros de música sacra contribuiu para a edificação
de uma arte musical de excelência pensada para o serviço de Deus, afirmou José
Maria Pedrosa concluindo que assim “nasceu a grande música sacra. Fez-se
história: salvou-se o homem todo.”

conferência_ciclo

A programação do 4º
Ciclo de Música Sacra apresenta, este ano, uma outra conferência intitulada
“Da Música Sacra à Música Litúrgica: a identidade da
linguagem musical nas celebrações cristãs”, no dia 14, quinta-feira, às 21h30,
proferida por José Paulo
Antunes, da Universidade Católica do Porto.

A sequência de Concertos,
que acontece aos domingos, pelas 18h30, inclui-se no âmbito do projecto
“ANIMAPÓVOA – Animação de Sítios Históricos” e tem o apoio da Câmara Municipal
da Póvoa de Varzim. A primeira actuação terá lugar a 10 de Maio e intitula-se
A Música na História do Louvor Cristão,
pelo Coro de Câmara Thalassa – Marin, seguindo-se, no dia 17,
Vésperas da Virgem Santa Maria – Do Gregoriano à Polifonia, pelo Grupo de Câmara Vocal e
Instrumental de Esposende.

O concerto do
dia 24 intitula-se O Cântico dos Cânticos na polifonia da Renascença e
Motetos
para o Tempo da Paixão e
será exibido pelo grupo Ensemble Clepsidra e no dia 31 o Coral “Ensaio” da
Escola de Música da Póvoa de Varzim apresenta
A Missa no
cerimonial religioso
.

Irá realizar-se, ainda, a 8 de Maio,
sexta-feira, às 21h30, o
Encontro de Coros Paroquiais,
que ilustrará
A Música nas celebrações do Arciprestado de Vila do Conde/Póvoa de Varzim e
que
reunirá o Grupo Coral Paroquial de
Balasar, o Grupo Coral de N.ª Senhora da Lapa, o Coro Paroquial de S. Simão da
Junqueira e o Grupo Coral Paroquial de S. Pedro de Rates.

Reforçando o objectivo formador do evento, irá decorrer, durante o Ciclo, o III Curso
de Direcção Coral e Técnica Vocal, nos dias
15, 16 e 17 destinado,
principalmente, aos que desempenham o seu ministério, através da música, nas celebrações
litúrgicas da paróquia.

Segundo Manuel de Sá Ribeiro,
Pároco de S. Pedro de Rates, a programação que preenche esta 4ª edição do Ciclo
de Música Sacra, irá enquadrar-nos num vasto cerimonial com que, ao longo dos
séculos, se entoou o
Laus Deo. Com esta abordagem percursiva, desde os momentos históricos até à
actualidade, ainda se encontrarão referências com as quais a Vila de Rates
também se identifica, testemunhadas pelo que representa a preciosa Igreja
Românica e a já documentada tradição musical, como na história dos Caminhos de
Santiago.