Póvoa de Varzim, 04.05.2009 - "O Gregoriano e a Polifonia Sacra: do conflito à união estética" foi o tema da Conferência de Abertura do 4º Ciclo de Música Sacra na Igreja Românica de S. Pedro de Rates, proferida ontem ao final da tarde por José Maria Pedrosa, doutorado em Ciências Musicais Históricas pela Universidade de Coimbra.
O conferencista foi convidado para, pela
terceira vez consecutiva, fazer a abertura deste ciclo que durante o mês de
Maio atrai centenas de pessoas à Igreja Românica de S. Pedro de Rates para
assistirem a concertos de música sacra de elevada qualidade. O tema repete-se
nesta terceira lição e José Maria Pedrosa começou por lembrar que «da essência do cantochão, em todas as suas
espécies – desde o siríaco-bizantino ao gregoriano – faz parte uma simplicidade
linear nascida no ambiente celebrativo dos primeiros cristãos e logo
enriquecida esteticamente com o gosto e o fervor das assembleias cristãs em
solo doméstico, basilical ou monástico”. Este chão musical em nada contradiz a
prática de uma polifonia natural, porventura desde sempre mas mais documentada
a partir do século IX. A experiência do canto dentro da própria Liturgia originou
lentamente uma prática artística inovadora assente no próprio cantochão e teimosamente
reiterada através da Idade Média, não sem a vigilância eficaz dos príncipes da
Igreja, continuou José Maria Pedrosa.
O especialista em Ciências Musicais
Históricas revelou ainda que “o culto de uma polifonia sacra
esplendorosa por toda a Cristandade nos séculos XV e XVI, em reflexo natural da
proliferação das artes visuais e da própria música profana, não destronou o
canto gregoriano, antes o assumiu e revestiu de beleza transcendente em ordem a
uma liturgia misticamente vivida”. Através de uma cumplicidade estética,
verificou-se uma alternância pacífica entre gregoriano e polifonia com a
integração de temas gregorianos na polifonia sacra que o conferencista ilustrou
com o Magnificat e as Completas.
Com esta conferência,
José Maria Pedrosa procurou justificar e preparar os programas dos concertos
que integram Ciclo, utilizando o mais possível exemplos gravados como foi o
caso das Vésperas da Virgem Santa Maria, de Monteverdi, peça que será
interpretada a 17 de Maio pelo Grupo
de Câmara Vocal e Instrumental de Esposende.
Espera-se, desta
maneira, que todos os ouvintes fiquem a conhecer melhor a essência do canto gregoriano
e da polifonia sacra na época do seu apogeu, reconhecendo que a dependência e
coexistência de ambos os géneros de música sacra contribuiu para a edificação
de uma arte musical de excelência pensada para o serviço de Deus, afirmou José
Maria Pedrosa concluindo que assim “nasceu a grande música sacra. Fez-se
história: salvou-se o homem todo.”
A programação do 4º
Ciclo de Música Sacra apresenta, este ano, uma outra conferência intitulada “Da Música Sacra à Música Litúrgica: a identidade da
linguagem musical nas celebrações cristãs”, no dia 14, quinta-feira, às 21h30,
proferida por José Paulo
Antunes, da Universidade Católica do Porto.
A sequência de Concertos,
que acontece aos domingos, pelas 18h30, inclui-se no âmbito do projecto
“ANIMAPÓVOA – Animação de Sítios Históricos” e tem o apoio da Câmara Municipal
da Póvoa de Varzim. A primeira actuação terá lugar a 10 de Maio e intitula-se A Música na História do Louvor Cristão,
pelo Coro de Câmara Thalassa – Marin, seguindo-se, no dia 17, Vésperas da Virgem Santa Maria – Do Gregoriano à Polifonia, pelo Grupo de Câmara Vocal e
Instrumental de Esposende.
O concerto do
dia 24 intitula-se O Cântico dos Cânticos na polifonia da Renascença e
Motetos para o Tempo da Paixão e
será exibido pelo grupo Ensemble Clepsidra e no dia 31 o Coral “Ensaio” da
Escola de Música da Póvoa de Varzim apresenta A Missa no
cerimonial religioso.
Irá realizar-se, ainda, a 8 de Maio,
sexta-feira, às 21h30, o Encontro de Coros Paroquiais,
que ilustrará A Música nas celebrações do Arciprestado de Vila do Conde/Póvoa de Varzim e
que reunirá o Grupo Coral Paroquial de
Balasar, o Grupo Coral de N.ª Senhora da Lapa, o Coro Paroquial de S. Simão da
Junqueira e o Grupo Coral Paroquial de S. Pedro de Rates.
Reforçando o objectivo formador do evento, irá decorrer, durante o Ciclo, o III Curso
de Direcção Coral e Técnica Vocal, nos dias 15, 16 e 17 destinado,
principalmente, aos que desempenham o seu ministério, através da música, nas celebrações
litúrgicas da paróquia.
Segundo Manuel de Sá Ribeiro,
Pároco de S. Pedro de Rates, a programação que preenche esta 4ª edição do Ciclo
de Música Sacra, irá enquadrar-nos num vasto cerimonial com que, ao longo dos
séculos, se entoou o Laus Deo. Com esta abordagem percursiva, desde os momentos históricos até à
actualidade, ainda se encontrarão referências com as quais a Vila de Rates
também se identifica, testemunhadas pelo que representa a preciosa Igreja
Românica e a já documentada tradição musical, como na história dos Caminhos de
Santiago.