Presente na sessão, o presidente da Câmara Municipal,
José Macedo Vieira, não pôde deixar de exprimir o seu pensamento perante o
genocídio e as tragédias que ameaçam o mundo: “Vivemos num mundo de incertezas
e cada vez mais tenho uma única certeza, como afirmou o filósofo grego
Sócrates, «Só sei que nada sei»”.

Esther Mucznik, uma das conferencistas convidadas,
apresentou razões irrefutáveis para o ensino da Holocausto, desde logo o facto
de se tratar de um acontecimento onde foram assassinados cerca de seis milhões
de judeus. “Não podemos abstrair-nos de uma realidade tão trágica e temos de
combater o negacionismo” afirmou a investigadora judia consciente de que a
única maneira de combater essa negação da realidade é através do debate e do
estudo. “Só através do conhecimento e análise do Holocausto podemos detectar e
compreender noutros conflitos algo que caracterizou este massacre”,
acrescentou. Esther Mucznik considera o Holocausto um acontecimento sem
precedentes, pois “pela primeira vez, toda uma máquina de Estado colocou-se ao
dispor do extermínio de um povo inteiro. Hitler não matou a totalidade dos
judeus mas destruiu toda uma cultura e civilização. Hoje, a cultura judaica que
existe na Europa é uma cultura morta”, afirmou.

Apesar de Portugal não ter participado na guerra, a
presença dos judeus no nosso país faz
parte da nossa História e foi-nos claramente relatada por Dora Caeiro,
Professora de História, que participou na conferência reflectindo sobre a
conduta, ora favorável ora repressiva, dos reis portugueses perante este povo.

Esther Mucznik alertou ainda para a “desumanização do
inimigo, único meio para o planeamento do extermínio, que conduz à
desumanização dos perpetuadores deste empreendimento sistemático de doze anos
de exclusão e discriminação judaica”. Apesar dos motivos apresentados serem
mais que suficientes para justificar o ensino do Holocausto, Esther reconhece
que estarmos a 60 anos da tragédia acrescido do facto do sucedido ir contra a
religião e valores que nos foram incutidos dificultam a tarefa. “O Holocausto
tornou-se um património da Humanidade, pelo lado negativo, claro.”, concluiu a
investigadora.

Gabriela Fernandes, responsável pela publicação de vários livros sobre o
Holocausto, refutou a ideia de Esther afirmando que “há valores que são
intemporais” e a realidade que nós queremos saber é terrível”. A palestrante
manifestou a sua constante indagação perante a indiferença com que as pessoas
reagiram ao massacre e a passividade face ao genocídio, atitude de
insensibilidade perante o outro que actualmente também se verifica em várias
dimensões e que ela apelida de “banalidade do mal”.

expo_holocausto

Um mal que foi, em parte, reconstruído pelo
testemunho de Esther Mucznik e Gabriela Fernandes que juntamente com José
Manuel Fernandes e Margarida Delgado realizaram uma acção de formação em Israel
no Verão passado e se disponibilizaram a transmitir uma fascinante lição sobre
a história do Holocausto. Resultado dessa viagem foi também uma exposição
intitulada “O Ensino do Holocausto no Século XXI” do Museu Yad Vashem que está
patente na Biblioteca Municipal até ao dia 25 deste mês e que retrata o terror
vivido pelos judeus desde o momento em que se convertem em cidadãos inferiores,
privados de direitos (1933) até à altura em que são vítimas das maiores
atrocidades e um terço do seu povo é exterminado (1945).