Em representação da família do compositor e músico poveiro, o seu neto Freitas do Amaral partilhou algumas recordações do talento musical do seu avô. “Não foi apenas um compositor de música, tocava muito bem piano e órgão”, assegurou. E a este propósito, revelou que o tinha ouvido a acompanhar missas a órgão, de improviso, tanto na Igreja Matriz da nossa cidade como na Igreja de Fátima, em Lisboa. “Improvisava segundo a sua veia artística ou servindo-se de um som com que tinha acordado na cabeça, ou ainda a partir de um acorde dado pelo neto”, recordou.

O político português revelou ainda que Josué Trocado tinha uma sensibilidade especial para o Canto Coral e foi professor de Canto Coral durante muitos anos no Liceu Pedro Nunes. Foi, igualmente, responsável pela Reforma do Ensino de Canto Coral e autor do primeiro manual para Ensino de canto Coral nos Liceus.

Freitas do Amaral referiu que, “ao longo da sua vida, o avô Trocado dedicou-se mais à música religiosa. No entanto, a par, há uma melodia muito bonita e obras de grande qualidade. Tudo isto conseguido com muito esforço e dedicação”.

O Professor Universitário considera que a publicação do livro de José Abel Carriço, só possível graças ao contributo financeiro da família de Josué Trocado, termina uma primeira fase de busca, encontro, identificação e catalogação parcial das obras do avô Trocado”. No seguimento deste trabalho, propôs a constituição de uma Comissão responsável por procurar e divulgar de uma forma mais sistemática a obra do compositor poveiro, “até que um dia algumas das suas composições cheguem a grandes centros de Música Coral no mundo”.

“Ele merece, a Póvoa merece, Portugal merece”, concluiu Freitas do Amaral asseverando que o legado do “avô Trocado” tem enorme qualidade.

Reconhecendo este talento, Luís Diamantino, Vereador do Pelouro da Cultura, afirmou que “o Dr. Josué Trocado (como era conhecido) faz parte da história da Póvoa. Todos o recordam como a pessoa que compunha músicas para tudo, tanto para o coro da igreja como para diversão”.

O autarca disse ainda que o compositor era “uma pessoa simples e, na sua simplicidade, tinha uma forma de estar na vida. Ensaiava com as mulheres na rua e ouvia sempre a opinião dos outros”.

Luís Diamantino destacou também que Josué Trocado foi fundador do Orfeão Poveiro e esteve na génese da construção do edifício destinado para sede do mesmo. Esta construção não chegou a ser concluída, no entanto, a fachada (visível na Biblioteca Municipal Rocha Peixoto da Póvoa de Varzim) perpetua a memória da mesma.

Em relação ao livro de José Abel Carriço, o Vereador da Cultura declarou era a “maior forma de tornar perpétua a memória de Josué Trocado nele estava condensado um retalho da nossa história”.

O Caloiro” (1913) Opereta/ Revista em 2 Actos de Josué Trocado (1882-1962) assim se intitula a publicação apresentada que assinalou o cinquentenário do falecimento do compositor e músico poveiro (8 de dezembro de 1962).

José Abel Carriço informou que o livro resultou de uma tese de Mestrado, e, tal como o subtítulo indica, assume-se como “Um contributo escolar para o desenvolvimento social e cultural da Póvoa de Varzim”.

O conteúdo que se expõe na obra tem início num campo mais vasto, onde se faz uma resenha histórica sobre os géneros musicais versados com “O Caloiro” desde a sua génese até à forma, passando-se à sua receção em Portugal, e por fim particularizando-se com a obra do autor biografado e com o seu impacto no seu meio, do qual também é feita uma breve análise social.

Quanto ao autor, para além das notas biográficas complementa-se esta abordagem com grelhas preenchidas pelas composições que foram de possível recolha, desde a música profana até à sacra.

Quanto à obra, “O Caloiro” faz-se a transcrição do libreto e da partitura a qual se introduz com uma breve análise.

A opereta, que se estreou, em 1913, no Teatrinho do Colégio Povoense, foi apresentada, em parte, na sessão pelo Coral “Ensaio” e Grupo Instrumental da Escola de Música da Póvoa de Varzim.

O evento integrou ainda uma visita à exposição do espólio do Orfeão Poveiro. Custodiada pelo Arquivo Municipal da Póvoa de Varzim, a documentação desta sociedade artística e recreativa é um espelho do seu funcionamento e da figura do seu fundador Josué Trocado, agora em exposição ao público.