Uma magnífica antologia de prosa e poesia, que em tom de conversa amiga nos guia pelos textos apresentados e que nos oferece a leitura como viagem pelo oceano da literatura portuguesa. Foi nestes termos que José António Gomes, professor da Escola Superior de Educação, se referiu a De Mãos Dadas, Estrada Fora… , de Luísa Dacosta, que foi apresentado este fim-de-semana, na Biblioteca Municipal.
Como “cidadã” poveira, Luísa Dacosta regressou à Póvoa, com a qual mantém há muitos anos uma profunda ligação, para a apresentação pública de mais um volume desta antologia, onde se reúne uma reedição do terceiro e a edição de um quarto, que permaneceu inédito, como a própria autora revelou, durante dez anos. De Mãos Dadas, Estrada Fora… é uma antologia de leitura, dirigida aos mais jovens, e que foi publicada em três volumes, o primeiro saiu em 1970, o segundo em 1973 e o terceiro, que agora foi reeditado, em 1980.
Nesta obra, que conta ainda com as magníficas ilustrações de Jorge Pinheiro, Luísa Dacosta pretende guiar os mais jovens pela leitura de alguns dos autores mais marcantes da literatura portuguesa, numa altura em que, como a própria afirmou, “a literatura está a ser posta de parte e os grandes autores estão a ser achincalhados”. Maria do Carmo Vieira, professora do ensino secundário, que participou no lançamento do livro, lembrou, a este propósito, o nome de autores portugueses, como Camões, Eça de Queirós ou Cesário Verde que, nos últimos anos, viram a abordagem da sua obra “facilitada” e reduzida aos seus textos menos representativos. Na opinião da docente, “é triste ver a ignorância com que se tratam os autores portugueses actualmente, no ensino”. Luísa Dacosta tenta contrariar esta tendência, propondo na antologia De Mãos Dadas, Estrada Fora… a leitura de autores portugueses, muitos dos quais nem figuram nos programas de português, através da publicação de textos representativos desses mesmos autores e de textos explicativos sobre os autores citados e sobre o período histórico e literário em que se inserem.
luisa dacostaÉ, como explicou a própria Luísa Dacosta, a “pedagogia do deslumbramento”, porque se procura cativar os jovens leitores, apresentando-lhes textos e autores de qualidade, indispensáveis para a compreensão da vasta e rica literatura portuguesa.
Corroborando a opinião da autora, o vereador do Pelouro da Cultura, Luís Diamantino, falou de uma “pedagogia do esquecimento, ou mesmo do desconhecimento”, no ensino da literatura portuguesa. E, para combater esta tendência, pelo menos a nível local, como referiu o Vereador, a Câmara Municipal vai mandar distribuir esta antologia por todas as escolas do concelho. Nascida em Vila real, Luísa Dacosta viveu vários anos em Aver-o-Mar, terra que inspirou uma grande parte da sua obra e, apesar de há muito ter deixado esta freguesia poveira, continua a manter uma profunda ligação à Póvoa e, nomeadamente, à Biblioteca Municipal, com a qual colaborou sempre que pôde. O papel de Manuel Lopes, entretanto falecido, e ao qual Luísa Dacosta dedicou as palavras que proferiu no lançamento deste livro, foi também fundamental para manter e fortalecer a ligação da autora à terra que, entretanto, a nomeou “cidadã poveira”.