Entre 1914 e 1918, Portugal enviou mais de 20 mil soldados da metrópole para Moçambique com o objetivo de garantirem a defesa do território da colónia face aos alemães instalados a Norte, na atual Tanzânia. Mas, apesar da sua superioridade em número e no equipamento, os soldados portugueses foram condenados a uma missão impossível. As divisões internas entre republicanos e monárquicos, o desleixo com as regras sanitárias, a impreparação para as doenças tropicais, as dificuldades de um país arruinado para manter duas expedições a milhares de quilómetros de distância, na Flandres e na fronteira do rio Rovuma, a incompetência e a falta de vontade de combater tornaram a aventura em moçambicana o maior desastre das tropas nacionais em África desde Alcácer Quibir. Na Primeira Grande Guerra em Moçambique morreram mais portugueses do que na frente europeia e as memórias do sofrimento dos soldados, as denúncias de abandono, os episódios de cobardia e de incompetência dos chefes ou a vergonha pelas derrotas em Nevala ou em Negomano alimentaram a raiva contra a República que impulsionou o 28 de Maio. Mas, deposto o regime, o Estado Novo tratou de apagar da história esses fracassos coletivos, inconvenientes para um país com pretensões coloniais. Os cemitérios da Grande Guerra abandonados ou os ossários expostos ao ar que persistem em Moçambique são o testemunho de que essa vontade de esquecer perdurou até aos nossos dias.