A frase é do escultor Rui Anahory e exprime bem a dificuldade que o próprio confessou ter tido na criação e concretização do busto de Manuel Lopes, que esta tarde foi inaugurado, na Biblioteca Municipal.

A obra de Anahory é uma homenagem da Câmara Municipal ao antigo director da Biblioteca Municipal e fica naquela que foi a sua segunda casa, à qual dedicou a sua vida e o seu trabalho. A amizade que desde os tempos de escola ligou o escultor e Manuel Lopes, o reconhecimento do valor e da dimensão desta figura ímpar da cultura e da complexidade da sua personalidade foram alguns dos factores que dificultaram a tarefa de Rui Anahory, que empenhou três anos de trabalho na realização de uma obra que foi, segundo ele: “uma luta tremenda, mas um empenho por um amigo muito especial.”

Impossível não recordar as traquinices do tempo de escola e as histórias mais sérias, que revelam bem a dimensão intelectual e o apego aos livros e ao conhecimento que dominavam a vida de Manuel Lopes. Histórias partilhadas com muitos dos amigos que, ainda hoje, continuam a reunir-se para homenagear o homem e a sua obra e que fazem questão de, como afirmou o vereador do Pelouro da Cultura, Luís Diamantino, “voltarem todos os dias 14 de Agosto, num gesto que se deverá perpetuar, para lembrar Manuel Lopes”. E a prova é que o átrio da Biblioteca Municipal voltou a estar cheio esta tarde, à semelhança do que já se tinha verificado no ano anterior.

O dia começou com um passeio na Lancha Poveira, que foi outra das paixões de Manuel Lopes, e por cuja recuperação se bateu, tendo-se mesmo tornado membro da tripulação. De tarde, as cerimónias na Biblioteca incluíram a passagem de um vídeo evocativo e a abertura ao público de uma exposição composta por livros, documentos, objectos pessoais e de trabalho, que pertenceram ao antigo director da Biblioteca e do Museu, um momento de música e poesia e a inauguração do busto de Manuel Lopes.

busto ML

A obra de Rui Anahory fica, a partir de hoje, no topo das escadas que levavam àquele que, durante muitos anos, foi o gabinete de trabalho de Manuel Lopes. Num gesto simbólico, o escultor entregou ao vice presidente, Aires Pereira, em representação da Câmara Municipal, um pedaço de bronze, proveniente da peça escultórica, que está assente num pedestal onde, numa das faces, se representa a lancha poveira e, na outra, figuram as siglas poveiras e uma frase do vereador do Pelouro da Cultura: “viver como quem mergulha na floresta virgem e rasga a pele no tronco da árvore mais alta. Viajar por todos os mares e experimentar a fúria de todos os ventos. Partir o mundo em pedaços para fundi-lo, mais luminoso, com a lava do vulcão interior. Assim és tu: terra, luz, grito, vela, lava e mar”.