No ponto mais distante de Portugal desta região
espanhola (a cerca de 300 km da fronteira com Valença), políticos e outros agentes
sociais reuniram-se durante o fim-de-semana para reflectir e perspectivar as
relações entre a Galiza e Portugal no sentido de ‘construir um espaço comum de
comunicação e cultura’.

A Póvoa de Varzim esteve presente, através do Vereador
da Cultura, Luís Diamantino, para a apresentar o seu invulgar exemplo e
contributo ao nível da promoção e relação cultural entre as duas comunidades,
isto é, pela produção anual do Correntes
D’Escritas, a ‘festa da literatura’, que em Fevereiro de 2009 completa 10
anos,  e constitui, talvez  o  maior e
melhor  desafio  às línguas de ambos os países.

Ribadeo, tal como a Póvoa de Varzim, tem o mar como
meio fundamental de experiência, de aproximação e encontro de culturas e dos
povos que as representam. Os seus promotores procuram, de cada vez, ‘achar’
novas fórmulas de envolvimento e interesse colectivo para o progresso das
populações.

Luís Bará, Conselheiro da Cultura e do Desporto da
Junta da Galiza – Governo Regional – preconiza que   deveríamos
caminhar para a promoção de um Fórum regular de discussão, avaliação e promoção
cultural; para a implementação de plataformas  de divulgação da
programação cultural; para o intercâmbio de artistas e para a mobilização dos
meios de comunicação, como por exemplo   a realização de um protocolo
de divulgação entre as televisões públicas da Galiza e de Portugal.
Aliás, no seu entender, a tónica na comunicação é essencial para o
florescimento da consciência de um espaço comum, além de um investimento claro
na divulgação da língua.

Os cerca de 80 participantes,
provenientes  de vários lugares da Galiza e de Portugal (Porto,
Guimarães, Póvoa de Varzim, etc) passaram três dias em reflexão sobre a
cooperação cultural e institucional, perspectivando um trabalho no presente e
no futuro, sobre a cultura do mercado entre a Galiza e Portugal e a necessária
construção de uma ponte informativa entre dois lados. Para além de uma
exposição etnográfica, ‘Galiñas, míserias
e cabezudos’ e um concerto, que juntou Fran Pérez, da Galiza e Manecas
Costa, da Guiné Bissau , e que demonstrou como se pode fazer a ligação
entre os dois espaços culturais, houve lugar também para apresentação de
espaços dinâmicos de programação e de projectos culturais emergentes.

Nesse sentido, o Correntes D’Escritas surge como espaço
privilegiado de contacto e desenvolvimento, não só para a cidade, tornando-a
mais competitiva sócio-culturalmente, mas também para todos os que nele
participam, pelos desafios e oportunidades.

jornadas mar por meio

Luís Diamantino, aproveitou a sua intervenção para
convidar todos a visitarem a Póvoa de Varzim na próxima edição, em que se
comemoram os 10 anos de actividade, de 11 a 14 de Fevereiro de 2009, para
viverem e confirmarem o empreendimento cultural que vem sendo realizado e que
favorece a formação dos diferentes públicos face ao livro e à leitura, em
expressões diversas como a música, a poesia, o teatro e em especial na relação
directa com os próprios escritores. Durante aqueles dias ,  centenas
de pessoas estabelecem relações singulares entre si, de trabalho, de cooperação
e amizade. Com o Correntes já aportaram na Póvoa de Varzim, mais de 300
escritores  (10 da região da Galiza) de 19 países e efectuaram-se 170
lançamentos de livros  em  primeira mão .  ” O
Correntes D’Escritas é uma referência nacional e internacional, temos
consciência disso ” , referiu o
vereador,  ” confirmando o desígnio estratégico do
concelho, o esforço necessário para continuar a criar e a inovar, na certeza de
que o livro continuará a ser o protagonista principal ” .

Tão perto, mas simultaneamente tão longe, 
a reflexão apontada no texto de abertura das jornadas 
e confirmada  durante  o  de
fim-de-semana,  é o que todos pretendem contrariar numa tentativa de
trabalho em conjunto. A proposta dos organizadores aponta no sentido de
que os dois pólos culturais, Portugal e Galiza, combatam  
o desconhecimento quotidiano. Apesar da proximidade física, da língua e de uma
história partilhada, a verdade é que persistem barreiras administrativas e culturais,
como sejam as relações aglutinadoras de Lisboa com Madrid, e vice-versa, entre
outras, que praticamente não deixam espaço para uma relação mais próxima e
duradoura  Portugal-Galiza. Há que aproveitar as oportunidades
conduzidas pelas novas infra-estruturas viárias, que se traduzem, segundo dados
estatísticos recentes (2008), num fluxo anual de mais 26 milhões de veículos,
sendo que mais de 43 mil fazem-no, diariamente, para ir trabalhar de um para o
outro lado da fronteira, para aproximar, cruzar e incluir no imaginário de
ambos essa verdadeira proximidade cultural  na expectativa de que
amanhã, Portugueses e Galegos, quando se deslocarem em ambos os territórios não
se julguem em  país  estrangeiro mas num espaço comum de cultura
e comunicação. Esse é o maior desafio.