“Cresci num tempo sem Internet e sem televisão por cabo. O livro era a única forma de conhecer o mundo”, começou por dizer Maria do Rosário Pedreira. Sendo a mais nova de quatro irmãos, “escrever foi a forma que encontrei para captar a atenção da família”, explicou. Maria do Rosário Pedreira considera-se uma escritora nas horas vagas: “na verdade, sou editora”. “E se não fosse?”, perguntou um dos alunos. “Tinha de ser. Não me imagino a fazer qualquer outra coisa. O que mais gosto é de ler e escrever.

Ao constatar que os textos dos manuais escolares não despertavam o interesse dos seus alunos que, por serem repetentes e, por isso, mais velhos do que alunos de outras turmas do mesmo ano de escolaridade, Maria do Rosário Pedreira começou a escrever para eles: “os textos do género Lili vai à escola não lhes diziam nada. O que eles queriam era que a Lili fosse à discoteca”. Daí a criar o Clube das Chaves e o Detective Maravilhas foi um passo. Das suas experiências pessoais não se consegue separar enquanto escreve: “partimos para a ficção a partir de factos reais”. Muitas vezes perguntaram à escritora se escrever sobre amor, “quando o amor estava fora de moda, não seria um ato de coragem. Respondo que não. O amor não sai de moda. Estamos nesta vida para sermos amados. É impossível sermos felizes sozinhos. Morrer sem viver uma história de amor seria trágico”, confessou.

João Tordo escreve para comunicar. O primeiro poema que escreveu dedicou-o a uma colega por quem estava apaixonado. “Ela odiou. Mas ainda bem. Há uns anos atrás encontrei-a num supermercado e ela era muito feia”, brincou. “E o que te inspira?”, perguntaram. “Muitas coisas, qualquer coisa. Por exemplo, o início do livro O bom Inverno é uma cena que assisti em Roma, quando um homem muito gordo tentava com muito custo entrar no cesto de um balão de ar quente.     

“O livro é como se fosse uma redação muito grande e cujas personagens podemos imaginar como quisermos. Li o Harry Potter antes de fazerem o filme e o ator escolhido não correspondia nada ao que eu imaginei quando li o livro”, disse João Tordo.

Sobre o facto de ter vencido o Prémio Saramago, o escritor afirmou que “foi bom porque o prémio era monetário, o que me permitiu viver apenas da escrita durante algum tempo”. Se não fosse escritor seria cozinheiro. “Não chefe de cozinha, porque sou um péssimo líder, mas trabalharia numa cozinha, com certeza”.

O Correntes d´Escritas continua ainda esta noite, no Hotel Axis Vermar.  

“E, afinal, João, o homem muito gordo conseguiu entrar no cesto?”