Por considerar que um livro não se explica, não se
apresenta e o pior para fazer isso é o próprio escritor, Mia Couto limitou-se a
falar do lugar onde decorre a história do livro, Vila Cacimba, um território
que é difícil que Deus o veja. “A única maneira da Vila se fazer ver é mentir
porque está encoberta. Temos que mentir para sermos” afirmou.

O escritor moçambicano, que afirmou que “quando estou
a escrever não vivo em lugar nenhum”, reconheceu que “é mais difícil publicar e
mais fácil escrever com o decorrer dos anos” chegando mesmo a revelar que
encontrou um estilo para si. “Identifiquei mas depois quis questionar a
classificação que adoptei para mim porque quero surpreender-me a mim mesmo”
continuou o escritor confessando que “tive tanto medo de escrever este livro
como o primeiro” e em tom de brincadeira corrigiu “não tive tanto medo quando
escrevi o primeiro”. Mia
Couto afirmou que agora inventa palavras de uma maneira mais contida, mais
natural, assumindo que “fui percorrido por uma adolescência na escrita, onde
queremos fazer bonito”. O papel do escritor é escrever, é contar histórias e
dizer que as soluções estão no facto das pessoas se encontrarem a si próprias,
na capacidade de cada um se inventar. Mia Couto continuou alertando para a
incapacidade e inabilidade em que caímos, “há utopias que devem morrer”,
sugeriu.

Mia Couto 02

“Escrevo sobre o meu mundo pensando ingenuamente que
as pessoas se identificam com o que escrevo. Escrevo sobre gente que existe
dentro de mim”, concluiu Mia Couto.

À semelhança do que acontece com todas as suas
publicações, Venenos de Deus, Remédios do
Diabo
é um livro muito rico, apesar da simplicidade característica da sua
escrita, considerou Luís Diamantino, Vereador do Pelouro da Cultura que definiu
Mia Couto como “um artífice da língua portuguesa queimada pelo sol africano”.

Escritor muito estimado pelo público poveiro com
presença assídua no evento literário de maior impacto na nossa cidade –
Correntes d’Escritas –, Mia Couto é considerado um dos nomes mais
importantes da nova geração de escritores africanos que escrevem em português
e, como sempre acontece, atraiu mais de uma centena de leitores apaixonados ao
emblemático Diana Bar.

Mia Couto 01