O Bairro da Estrela
Polar
, a publicação mais recente de Francisco Moita Flores, editado pela Casa
das Letras e O Mundo Misterioso de Guta, que marca a estreia literária
de Filomena Gonçalves, foram as obras apresentadas na Biblioteca Municipal
Rocha Peixoto.

A sessão contou com a presença de Luís Diamantino,
Vereador do Pelouro da Cultura da Câmara Municipal, que se congratulou com a
presença de tão ilustres visitantes, que é sempre um prazer enorme receber. Não
fez grandes apresentações dos autores porque, disse, “são conhecidos de todos,
quanto mais não seja por aparecerem na televisão”. “E, como sabemos, hoje, quem
não aparece na televisão, não existe”.

Este foi, de resto,
um dos temas abordados nesta conversa com os leitores, a pretexto do novo livro
de Moita Flores. Outros dos assuntos que acabaram por vir ao de cima, perante
uma plateia interessada, animada e participativa, foram o estado atual do país,
ou seja, a crise, a emigração e o perigo de todas as generalizações, com as
quais é preciso cuidado, na opinião do autor.

Moita Flores
escreveu O Bairro da Estrela Polar como contributo para que o mundo
deixe de ser visto e pensado “a preto e branco”, o mundo em que se pretende
construir uma narrativa de que todos os políticos são corruptos, todos os
polícias são violentos ou em que “o mal está sempre do lado que não é o nosso”,
ironizou, querendo, assumidamente, alertar para o perigo que constitui esta
radicalização de uma sociedade “sem memória”, para o que muitas vezes, a
própria televisão contribui. No seu entender, é preciso não esquecer os tempos
difíceis que Portugal já viveu ao longo dos séculos: um país que sofreu de
fome, de filas de racionamento de comida, de doenças que dizimaram uma
percentagem elevada da população, de emigrantes que saíam “a salto” sem saber o
que os esperava do outro lado. E nessa altura, a realidade do outro lado era
muito mais difícil. “Hoje quem emigra sabe para onde vai, o que vai receber”,
afirmou, confiante de que, mais uma vez, Portugal será capaz de ultrapassar as
dificuldades.

O Bairro da Estrela
Polar
pretende, então, alertar para a necessidade de ver o outro lado do
discurso a preto e branco, o outro lado da realidade. Inspirado em Capitães
da Areia
, de Jorge Amado, livro e autor que o ajudaram a formar o seu
pensamento, tal como Soeiro Pereira Gomes e outros, numa altura em que percebeu
que havia palavras, livros, autores proibidos, o livro apresentado representa
essa sua vontade de explicar aos leitores que é urgente sabermos fazer a nossa
própria leitura do mundo que nos rodeia e perceber que “os vilões também têm
coração”.

É o que o vereador
Luís Diamantino considera acontecer neste livro: “o leitor, quando se dá conta,
simpatiza com os maus da fita”.

Sobre o livro que
marca a sua estreia literária, Filomena Gonçalves, que se considera ainda mais
atriz do que escritora, revelou ser um contributo para que os mais jovens
gostem de ler. Destina-se, essencialmente, àqueles que, tendo já deixado de ler
livros com ilustrações, “ainda se assustam com muitas letras”. Por isso, o
livro está escrito com pequenos capítulos, que ajudarão os leitores a
compreender que, num livro, é mais importante o prazer da leitura do que o
momento em que se chega ao fim. “O importante é usufruir do momento de ler”,
acrescentou dizendo que os personagens do seu livro são menos problemáticos do
que os do livro do seu companheiro.

O Mundo Misterioso
de Guta
é uma história divertida
sobre um mundo imaginário e fabuloso dos mistérios do Tejo e dos segredos que
nos falam de poetas e musas de seres mitológicos e sobre o valor da amizade,
dos nossos afetos e das recordações.