E é a essa “alienação” colectiva que se tem assistido, desde
quinta-feira, na Póvoa de Varzim nesta que é a primeira edição do Festival
Músicas do Mar. Num crescendo de público, que desde a primeira noite tem
acompanhado fielmente os concertos, o Festival afirma-se nessa raiz sólida do
talento e da qualidade de todos os grupos que por aqui têm passado.

Se,
na quinta-feira, quando tudo começou, ainda havia quem fosse só para saber o
que era, afinal, o Músicas do Mar, hoje, quando se entra no último dia, é mais
do que seguro dizer que o festival agarrou completamente o seu público, que
ninguém conseguiu resistir a dar um pezinho de dança no Largo do Passeio Alegre
ou a entrar a fundo na festa, no Auditório da Lota, noite dentro, com os dj´s
convidados, ou mesmo a deixar-se levar pela alegria e pela pantomima dos
concertos de rua.

Ontem,
ou melhor, hoje, já muito de madrugada, o trio de dj´s Bailarico Sofisticado, transformou
o Auditório da Lota, no interior do Porto de Pesca, numa discoteca ao ar livre
e a noite, surpreendentemente morna para este início de Setembro, ajudou a
prolongar a festa que já tinha começado bem antes, perto das 18h30, com a
actuação de rua dos Anónima Nuvolari. O grupo de músicos italianos, residentes
em Portugal já há vários anos, chegou à Esplanada do Carvalhido com os seus
instrumentos e a música logo chamou quem por ali ia passando. Impossível não
parar para ficar a ouvir histórias burlescas cantadas na voz rouca do
acordeonista e deixar-se levar pela teatralidade dos artistas, que se envolviam
o público que ali estava e até mesmo com os que ouviam das janelas dos prédios
vizinhos. Daqui, o grupo passou para o Largo David Alves, onde o concerto
terminou já muito perto das 20h00.

Uma hora mais tarde, as atenções viraram-se para o Diana
Bar, onde se estrearam os argentinos Escalandrum. O concerto deste grupo,
liderado por “Pipi” Piazzolla, neto de Astor Piazzolla, foi uma estreia
absoluta em solo europeu. A Póvoa teve, pois, o privilégio de os receber e de
ser o primeiro palco em que actuaram, deste lado do Atlântico. Seis músicos de
excelente qualidade. Músicas originais, compostas pela banda e uma entrega
absoluta ao público fizeram deste concerto de jazz mais um dos momentos
memoráveis do Festival. O Diana Bar, cheio, reconheceu, de pé, o excelente
espectáculo e ainda houve tempo para saudar os músicos pessoalmente, no final,
que uma das vantagens deste espaço é o palco ser ao nível do público na
atmosfera intimista de um café circular.

E
foi só tempo de sair e atravessar a rua, porque do outro lado, no Largo do
Passeio Alegre, num palco preparado para grandes concertos, já aguardavam os
Eddie, para tocarem o seu misto de rock, frevo, samba, reggae e toda uma
mistura de outros estilos que se fundem numa música que se esquiva a
classificações estáticas. Com enorme energia e alegria, os brasileiros, vindos
de Olinda, em Pernambuco, trouxeram uma música de ritmo contagiante, com letras
despretensiosas e tão da realidade do dia-a-dia, como aquela sobre o desejo das
pessoas de viverem a vida de outras pessoas e de afinal, essas “outras pessoas”
quererem, também elas, viver outras vidas, ou as histórias de amor que acabam
assim”quando o teu sorriso se cansar da minha voz”. Já era meia-noite quando o
público os deixou, finalmente, partir.
Hoje
entra-se no último dia. Os portugueses Kumpania Algazarra saem à rua às 18h30,
começando a sua actuação na Esplanada do Carvalhido e passando depois para o
Largo do Passeio Alegre, na zona das esplanadas. À noite, no palco do Passeio
Alegre, actuam os La Troba Kung-Fú, grupo oriundo de Barcelona, que traz um som
bem diferente, em que fundem a rumba catalã, o reggae, a salsa e até os blues…
ousados e diferentes.

escalandrum eddie
Escalandrum Eddie

E,
enquanto se aguarda por estes concertos de encerramento, podemos ainda lembrar
os sons quentes e envolventes da guitarra de Joel Xavier, que abriu o Festival,
na quinta-feira, a raiz africana do ritmo contagiante do baterista Tony Allen e
da sua banda, que actuaram nessa mesma noite, num espectáculo que trouxe até à
Póvoa muitos dos seus admiradores incondicionais, que não é todos os dias que
um músico destes actua no nosso país. Quanto a sexta-feira, obrigatório também
lembrar a brilhante actuação dos O´Questrada. Grupo português liderado pela
extraordinária voz, expressividade e teatralidade de Miranda, mas onde todos os
músicos sobressaem pelo talento como tocam instrumentos tão estranhos como a
“contra-bacia” ou a guitarra que é portuguesa, mas que toca todo o tipo de
música, à portuguesa, claro. A noite prosseguiu  com os sons bem mais melódicos de Alkinoos
Ioannidis, que trouxe a música grega ao palco do Passeio Alegre. Mais um
estreante em Portugal e que conseguiu também captar o público, rendido à beleza
de sons tão poucas vezes escutados por cá. Sexta-feira chegou ao fim com o
apelo à dança, no Auditório da Lota, com os dj´s da Antena 3, Raquel Bulha e
Álvaro Costa.

E é
desta combinação de talento e qualidade dos grupos que compõem o programa e da
variedade de propostas sonoras que, em tão curto espaço de tempo, se colocou em
três palcos da cidade, que se faz o sucesso do Festival Músicas do Mar. Se,
inicialmente, se dizia que este era o ano zero, é mais do que seguro agora
dizer que este é, na realidade, o número um de uma série de que se espera e se
quer longa. Quem ainda não assistiu, tem hoje a última oportunidade de apanhar
a última onda destas Músicas do Mar.

Uma organização da Câmara Municipal, inserida
no programa AnimaPóvoa, com o apoio do Turismo de Portugal.