o apocalipse dos
trabalhadores
, o mais recente livro de valter hugo mãe, já vai na segunda
edição, tem três meses de vida e, como confessou o autor, “começo agora a ficar
curioso sobre o que acham as pessoas que o leram”. A apresentação foi feita no
Diana Bar, na passada sexta-feira à noite, perante uma plateia
recheada.

A partir das histórias de vida das personagens, de
onde sobressai a mulher-a-dias, maria da graça, se aborda a vida de um país
“atrapalhado”, no dizer do autor, que aprende a lidar com a realidade da
emigração e a combater o fenómeno de rejeição dos emigrantes. Portugal, o país
cuja maior cidade, em número de habitantes é Paris, onde vive mais de um milhão
de portugueses, tem, segundo valter hugo mãe, de aprender a não rejeitar os que
aqui procuram realizar os seus sonhos, pois esses actos de incompreensão são
uma forma de autorizar a rejeição das nossas próprias comunidades no
estrangeiro. Um apocalipse dos trabalhadores adocicado por histórias de amor,
porque, como confessa o autor, “eu sou um pouco piegas e estas podem ser duras
histórias de vida, mas são pontuadas pelo açúcar das relações amorosas, porque
nas dificuldades da vida há sempre lugar para algo de bom”. E talvez seja por
isso, como explica ainda o autor, que “dos três livros que escrevi, seja este o
que nos deixa mais apaziguados, mesmo tendo a palavra apocalipse no título”.

apocalipse

Nascido em Angola, de onde saiu ainda muito pequeno,
filho de pais naturais de Guimarães, que passavam as férias na Póvoa, com os
avós em Fafe, onde viveu alguns anos depois do regresso a Portugal, e depois
radicado em Vila do Conde, onde reside, valter hugo mãe encontra nestas
andanças da vida a explicação para o seu interesse pelo tema da emigração,
presente neste livro, e pela constatação de que uma pessoa se pode construir em
diferentes realidades, enriquecendo-se e recriando-se nas várias culturas com
que contacta.

E, no final, fica o lugar ao optimismo que valter hugo
mãe diz não perder: “apesar de tudo, eu acredito que este ainda vai ser um
planeta habitado por pessoas boas, digo-o a sério e com convicção, mas ninguém
acredita em mim….”

valter hugo mãe foi o vencedor do Prémio José
Saramago, em 2006, com o romance o remorso
de baltazar serapião.