A obra é um retrato do nosso tempo, feito da
precariedade e dessa esperança difícil. Um retrato desenhado através de duas
mulheres-a-dias, um reformado e um jovem ucraniano que reflectem sobre os
caminhos sinuosos do engenho e da vontade humana num Portugal com cada vez mais
imigrantes e sobre a forma como isso parece perturbar a sociedade.

“maria da graça –
mulher-a-dias em bragança esquecida do mundo – tem a ambição, não tão secreta
como isso, de morrer de amor; e por essa razão sonha recorrentemente com a
entrada no paraíso, onde vai à procura do senhor ferreira, seu antigo patrão,
que, apesar de sovina e abusador, lhe falou de goya, rilke, bergman ou mozart
como homens que impressionaram o próprio deus. mas às portas do céu
acotovelam-se mercadores de souvenirs em brigas constantes e são pedro não faz
mais do que a enxotar dali a cada visita. tal como maria da graça, todas as
personagens deste livro buscam o seu paraíso; e, aflitas com a esperança, ou
esperança nenhuma, de um dia serem felizes, acham que a felicidade vale
qualquer risco, nem que seja para as lançar alegremente no abismo.”

valter hugo mãe foi o vencedor do Prémio José
Saramago, em 2006, com o romance o
remorso de baltazar serapião
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