Participaram cerca de 50 crianças, duas turmas do 4º ano do
1º ciclo, uma da Escola
dos
Sininhos e outra da Escola Nova, que receberam o protagonista com um pregão
bem-sonante: “Olh’à Bola! Olha o Comércio! Olh’ó Notícias! Olha o Janeiro!”, fazendo-o
regressar ao passado.

 

 

Breve história da vida d’O Ardina:

Foi a súbita e
prolongada doença do pai, “António dos jornais” – o ardina lendário do comboio
“Póvoa-Porto-Póvoa”, ao longo de mais de 50 anos – mudou o curso da vida do
Joaquim, aos 17 anos: a necessidade de começar a trabalhar para ajudar no
sustento da casa inviabilizou, definitivamente, a projetada formatura de
“professor primário”, e passou a ajudar o pai na venda dos jornais – tarefa que
já antes vinha executando aos domingos, a par da irmã mais velha, a principal
auxiliar do pai António, ao longo dos anos.

Nos restantes dias
da semana rumava ao Porto – portador do “passe de circulação gratuita no
comboio”, fornecido pelo jornal “Diário da Manhã”, à semelhança de outros
jornais que distribuíam os seus “passes” pelos diversos ardinas.

Durante o percurso,
vendia alguns jornais e revistas até à estação da Trindade, onde “despia” a
farda de ardina e seguia para o escritório do seu patrono, Orlando Gonçalves
Lima, onde se iniciou como escriturário, a par do Curso de Dactilografia da
“Escola Maratona”.

Seguiu-se nova
mudança da agulha na “linha da vida” motivada pelo fecho do escritório, porém,
desta feita, para melhor: em 1958, completados os 18 anos de idade, e após um
estágio – não remunerado – foi admitido nos Serviços Municipalizados da Câmara
da Póvoa de Varzim, como escriturário – interino (a ocupar a vaga do
funcionário a cumprir o Serviço Militar), quiçá sobremaneira ajudado pelo
diploma trazido da prestigiada “Escola Maratona” e com o beneplácito de alguns
Amigos do pai, bem posicionados.

Veio o Serviço
Militar – ao longo de intermináveis quarenta e sete meses, parte em quartéis do
Continente, e a outra na estúpida guerra de Angola.

Em 1964, regressado
– salvo, mas marcado para o resto da vida…, casou, despediu-se da Função
Pública, e voltou a África – Moçambique – acompanhado da esposa, com familiares
na bonita capital, então, Lourenço Marques, onde se manteve até ao ano de 1973,
em diversas ocupações: escriturário, guarda-livros, gestor de empresas, e
bancário. Uma vez mais, de volta ao Continente, acabou por se reformar,
bancário.

A par da atividade
profissional, manteve intensiva vida desportiva, na qualidade de praticante,
dirigente e treinador, em ténis de mesa, futebol, voleibol e atletismo, ao
longo de sessenta anos, no desporto “por desporto”.

Joaquim Ferreira da
Silva também destacou a vertente cultural que tem vindo a desenvolver através
de publicações – prosa e poesia – nos jornais da Póvoa, desde os anos 70, e
assíduo aprendiz das “Correntes d`Escritas”, que habitualmente saúda com a
publicação de um curto poema.

Sobremaneira
motivado, conseguiu realizar um sonho antigo: escrever e publicar um livro, “O
ARDINA, o livro sonhado…”, apresentado em finais de 2006, que dedicou aos ARDINAS
DE PORTUGAL, em homenagem ao pai, António – o seu herói! sentida dádiva de
gratidão (sem esquecer a mãe Amélia – qual heroína, ao longo de uma vida dura,
em mar de lágrimas…).

Ainda houve tempo
para recordar outros nomes dos ardinas poveiros do seu tempo e, a terminar,
deixou-nos os nomes dos principais jornais diários da época – anos 50.

O ardina vendia
jornais na rua e começaram por ser crianças – tal como o Joaquim, com a maioria
mal vestida e descalça, mas muito despachada e sempre de olho vivo e a entregar
ao domicílio em intensivo porta a porta.

Os ardinas
deslocavam-se às Secções de Vendas das Redações para adquirir os jornais, a
pronto pagamento ou a crédito. A partir dos anos 40, as empresas jornalísticas
começaram a ter vendedores nas estações, fardados e usavam um boné com o nome
do jornal, percorrendo os comboios.

Em meados do século
XX os jornais começaram a ser vendidos em locais fixos, nos quiosques, em
bancas e nas papelarias, acabando por extinguir a profissão de ARDINA – a
atingir, também, o “António dos jornais”, que conseguiu sobreviver, e manter o
sustento da família, graças à ocupação de “cauteleiro” na venda da lotaria e de
“recoveiro” entre a Póvoa e o Porto, que sempre manteve a par da principal
profissão de ardina.

Por último, uma
pergunta se impunha! Porque chamavam de ardina ao vendedor de jornais? O
Joaquim, deveras surpreendido, e após curta meditação, rematou “Oh! Já soube,
mas esqueci…”.