A Terceira Miséria, de Hélia Correia, foi o livro escolhido pelo Júri como vencedor do Prémio Literário Casino da Póvoa, no valor de 20 mil euros.

Hélia Correia revelou que este era “ um livro que lhe era especialmente caro. Todos os olhos que lhe prestem atenção, estão também a prestar atenção à Grécia”, sendo que é “uma homenagem ao país”.

A vencedora do Prémio Literário Casino da Póvoa explicou que n’ A Terceira Miséria “destaca-se a voz de um país que está a sofrer uma opressão impensável. Nunca gostei de me pensar como uma missionária ou transmissora de mensagens mas, no caso deste livro, há uma grande mensagem que quis passar. Não vejo a Grécia como uma vítima indefesa mas a precisar de um grito de «alevantar» para transformar estas coisas noutras como os gregos sabiam fazer”.

Hélia Correia agradeceu “aos muito amados pares do júri” e ainda “uma coisa que nunca pensei fazer na vida: agradecer a um Casino”.

Conforme pode ser lido na Declaração de Voto do Júri, constituído por Almeida Faria, Carlos Vaz Marques, Helena Vasconcelos, José Mário Silva e Patrícia Reis, este considerou que o livro de Hélia Correia “mais do que um conjunto de poemas, é um longo poema construído a partir da matriz clássica europeia para refletir sobre questões fundamentais do Ocidente. Exemplo disso, são os seguintes versos: «A terceira miséria é esta, a de hoje. / A de quem já não ouve nem pergunta. / A de quem não recorda»”.

Na Sessão de Abertura do Encontro foram também anunciados os vencedores dos restantes Prémios Literários, nomeadamente, Prémio Literário Correntes d’Escritas Papelaria Locus, Prémio Conto Infantil Ilustrado Correntes d’Escritas Porto Editora e Prémio Fundação Dr. Luís Rainha Correntes d’Escritas. Veja, aqui, quem foram os distinguidos com os diferentes galardões e consulte as atas dos concursos literários.

Os alunos da Escola EB1 Sininhos, Póvoa de Varzim, autores do trabalho Lágrimas Musicais, distinguido com uma menção honrosa, pelo texto, estiveram presentes na Sessão, manifestando a sua alegria pelo reconhecimento.

Para além da revelação dos vencedores dos Prémios Literários, a Sessão contou com a apresentação da Revista Correntes d’Escritas (número 12) cujo dossiê é dedicado a Urbano Tavares Rodrigues.

 Na impossibilidade de estar presente por motivos de saúde e já longa idade, o homenageado fez-se representar pela sua neta, Sofia Fraga, porta-voz do seu “grande e comovido obrigado”.

O dossiê dedicado a Urbano Tavares Rodrigues integra textos de: Carlos Quiroga, Ignacio del Valle, João de Melo, José Carlos Vasconcelos, Manuel Alberto Valente, Manuel da Silva Ramos, Maria Teresa Horta, Paulo Sucena e Possidónio Cachapa. Para além disso, a revista conta com poemas de: Filipa Leal, Jesús del Campo, João Luís Barreto Guimarães, Luís Quintais e Uberto Stabile. E contos de: Afonso Cruz, Bruno Vieira Amaral, Carmo Neto, Cristina Carvalho, Helena Vasconcelos, Joel Neto, Manuel Jorge Marmelo, Paulo Ferreira, Sandro William Junqueira, Vinicius Jatobá. Recorde-se que a edição deste ano da Revista é patrocinada, na íntegra, pela Norprint, que celebra o seu 20º aniversário.

Em representação dos escritores, Helder Macedo partilhou a extrema importância do acontecimento Correntes d’Escritas, referindo-se à sua realização como uma “persistência corajosa”. Para o autor de Tão Longo Amor Tão Curta a Vida, o evento apresenta-se “contra a corrente de crise” que atravessa toda a Europa, e não só. “O Correntes d’Escritas está a evoluir e a persistir”, constatou.

Referindo-se ao valor da Cultura em Portugal, Helder Macedo afirmou que “somos um país perdulário. É nos países pobres que as fortunas são desbaratadas. Isso é o que está a acontecer à Cultura, vítima de desinvestimento neste nosso triste país”, lamentando que “depois de algumas décadas de investimento, nomeadamente na formação a nível mundial, essa gente esteja a ser exportada como no tempo de Salazar”. O escritor admitiu que, apesar do desinvestimento cultural do nosso país, a língua portuguesa é uma língua internacional e não apenas europeia e esse reconhecimento a nível mundial é vital.

“Apesar de tudo, o Correntes d’Escritas floresce e continua a crescer. Sem vós, nós não somos”, concluiu.

José Macedo Vieira, Presidente da Câmara Municipal da Póvoa de Varzim, assumiu que “nesta cidade que adotara a Cultura e o Lazer (“Cidade da Cultura e do Lazer”) como instrumentos para o seu desenvolvimento, o “Correntes” surgiu como um facto relevante, associando a cidade a um dos mais correntes, comuns e apreciados produtos culturais e expressões de cultura – o livro.

Cidade do Livro – sim, a Póvoa de Varzim é isso, que é como quem diz: cidade de leitores, cidade de autores, cidade de editores, cidade de livreiros, cidade de jornalistas e críticos literários, enfim, cidade de todos aqueles que, a qualquer título, relacionados com o livro, contribuíram para a criação desta marca identificadora da Póvoa de Varzim. E uma cidade que lê é uma cidade mais culta e mais livre”.

À semelhança de Helder Macedo, o edil deixou ainda uma palavra sobre o contributo da cultura para a recuperação da economia, salientando que “nela centrámos o projeto político de afirmação da cidade”. Na sua opinião, “a crise que vivemos reclama que tudo se repense e a cultura seja colocada no coração da Europa, porque só ela pode unir em torno de um projeto comum as diversidades que se enfrentam”.

O autarca assinalou que “a nível nacional, a despromoção de Ministério a Secretaria de Estado é, nos planos simbólico e material, a confirmação de que a crise empurrou a cultura para segundo plano. Ora, do que disse decorre o erro desta estratégia, que necessita ser rapidamente corrigida: sê-lo-á talvez a partir do próximo ano, com o reforço do orçamento comunitário para o setor, mas devia ser uma prioridade nossa, assumida como instrumento de combate à crise”.

José Macedo Vieira terminou recorrendo a Ortega Y Gasset que, no ensaio “Mirabeau ou o Político”, distingue entre o pequeno e o grande político, não se atrevendo a “desintelectualizar” o grande político, afirmando mesmo que “é ilusório crer que o político pode sê-lo sem ser, ao mesmo tempo, e em medida não escassa, intelectual”. A grande cultura é, pois, necessária ao grande político, é ela que o define, como a sua falta caracteriza a pequenez política. Na linha de Ortega, disse Enoch Powell, grande parlamentar e homem de cultura: a regra prática para qualquer político sério é “ler, ler e ler”. “Não sei se isso bastou para estar à altura dos desafios que me propus, mas que “li, li e li”, lá isso li e continuo a ler. Foi também por isso que nasceram, há 14 anos, estas Correntes, que vão continuar, cada vez mais fortes, estou certo disso”.

Acompanhe o 14º Correntes d’Escritas no portal municipal.