Para
uma plateia de cerca de três centenas de pessoas, Manuela Ferreira Leite falou
sobre o “O estado da Nação. Perspetivas…”, num discurso marcado pela sua visão
realista.

A
conhecida economista e política portuguesa referiu que “muito genericamente,
existem erros cometidos por nós próprios, pelas políticas aplicadas e pelas
instâncias que nos rodeiam, nomeadamente a Europa”.

A ex-líder
do PSD Manuela Ferreira Leite revelou que ela própria denunciou, atempadamente,
os erros cometidos pelo Partido Socialista, “questões que estavam a ser mal
conduzidas e nos levaram ao endividamento. Estávamos à beira de uma rutura
evidente. Os acontecimentos exteriores, na Europa e no Mundo, apenas deram o
empurrão para cairmos no abismo”.

Perante
isto, “são três instituições que nos ajudaram a salvar da bancarrota”, mas “não
era possível fazer-se uma correção daquela dimensão. Sempre discordei do acordo
estabelecido com a “troika” porque o programa de ajustamento proposto
compromete o seu cumprimento de forma violenta”, assumiu.

Eu se pudesse
satisfazer um desejo, teria tido imenso prazer em que  o Sócrates tivesse
enfrentado a “troika” e ficar ele a tomar as medidas  terríveis. Não mais
falavam de camarote tanto quanto agora falam”, respondeu  a antiga
governante, quando lhe perguntaram se achava que o PSD se tinha 
precipitado aquando do chumbo do PEC 4. 

Na opinião da
ex-ministra das Finanças, “o Fundo Monetário Internacional  (FMI) não
tinha a mínima experiência de intervenções nos países” da natureza 
de Portugal, uma vez que em países com moeda única “nunca tinham feito
nada”.

“Eu penso
que neste momento ninguém tem dúvidas, até aqueles próprios  que ditaram a
receita, de que a receita está errada porque os resultados  são
desastrosos”, defendeu. 

Considerando que
“o ritmo” imposto para as medidas é desajustado, Manuela 
Ferreira Leite defendeu que “em recessão, não é possível fazer-se
consolidação  orçamental”, e, portanto, “querer ajustar contas
públicas em recessão é  uma impossibilidade”. 

Quanto a
perspetivas, a ex-deputada social-democrata considera que “o quadro de
correção, ou bem que  é amenizado o seu ritmo, ou então não tem correção
possível.  Vamo-nos afundando cada vez mais, pensando que estamos a
corrigir”,  alertou, acrescentando que “se não houver
crescimento, isto não é corrigível”.

Ferreira Leite
disse ver “com bons olhos” o facto da palavra
“crescimento”  ter entrado “no léxico político”,
salientando a importância de “estar na  boca das próprias
instituições” que impuseram o modelo que Portugal está a
cumprir. 

A ex-ministra
das Finanças encara uma perspetiva de mudança e de melhoria para Portugal o
facto de haver na Europa países como Espanha e Itália em situação económica
dramática, o que poderá ser “uma boa notícia para nós”.

Advertindo que
“as políticas têm que ser alteradas” porque, se tal não acontecer, “caminhamos
para uma situação irreversível”, Ferreira Leite realçou que temos um “argumento
fortíssimo” para o provar: “fizemos o que nos mandaram e as políticas impostas
não resultaram.

A política de
austeridade cria uma situação insustentável em todos os países europeus. A
Europa deveria ter uma política solidária de forma a levar os países em
recessão a desenvolverem-se, constatou, acrescentando que os princípios de
solidariedade do projeto europeu são fundamentais.

Sobre uma
questão relativa ao aumento do IVA na restauração, a ex-líder do PSD disse
considerar este tema “um mistério”. 

“É um
mistério, porque penso que o objetivo básico de qualquer instituição  ou
qualquer decisor, quando aumenta os impostos, é para obter mais receita. 
Quando se lançam impostos cuja receita cai, como é claramente este
imposto  e como foi claramente anunciado que seguramente ia acontecer, eu
só posso  dizer que é um mistério”, justificou. 

Para Ferreira
Leite, esta é uma “medida absolutamente negativa do ponto  de vista
de resultados” e “qualquer tomada de decisão que não tenha adesão 
à realidade, é sempre errada e deve ser considerada como tal e alterada”.

“Considero
quase impossível que ela não venha a ser alterada. Se não for, então,
nessa altura, temos que a qualificar de outra forma, que neste  momento me
dispenso de fazer”, observou.