Lucinda Delgado, Vereadora do Pelouro do Desenvolvimento Local, explicou que este fórum pretendeu “valorizar as empresas familiares e dar a conhecer a existência de uma estrutura, de uma associação própria, onde as pessoas podem tirar dúvidas e obter uma estreita colaboração. É nossa obrigação desenvolvermos estes espaços de informação e reflexão. A Câmara Municipal tem vindo a realizar diversas atividades deste género, que entendo que devem ser criadas agora, em tempos de crise”.

António Costa, da efconsulting, debruçou-se sobre as maiores dificuldades das empresas familiares como por exemplo: “separar o lado emocional do profissional. Há uma ligação emocional à empresa familiar que não existe em qualquer outra. Só se atira a toalha ao chão quando já não existe qualquer hipótese de recuperação”. Habitualmente, explicou o consultor, “quando um empresário familiar perde a empresa, perde também a casa, o carro, tudo. Ainda por cima, nem terá direito a subsídio de desemprego caso o negócio corra mal”. Os conflitos, se existirem, “como em qualquer outra empresa, serão com os sócios e os funcionários. A diferença é que os sócios e os funcionários são os nossos irmãos, os nossos primos, os nossos pais e no dia seguinte a uma discussão há um aniversário, uma comemoração em família. Como lidar com toda esta pressão?”. A resposta pode parecer simples, “comunicação”, mas nem sempre é fácil construir uma relação familiar e profissional baseada na comunicação, no entanto, “é essencial”. Uma empresa familiar é uma confluência de três grandes interesses: “a empresa, a propriedade e a família. E cada membro da família e da empresa terá uma opinião diferente sobre cada assunto, quer seja assunto pessoal ou profissional”. António Costa sublinhou a importância da sucessão: “do processo de sucessão pode depender a viabilidade de uma empresa familiar. É vital o seu planeamento”. E desta importância surgiu o título da sua conferência “O legado do Papa Bento XVI aos empresários familiares”. O orador considera que a decisão de Joseph Ratzinger serve de exemplo aos empresários familiares, que teimam em não preparar e deixar os seus sucessores ficar à frente dos negócios.     

Carlos Lucena, advogado e sócio fundador da Telles de Abreu e Associados, sublinhou a importância da existência de um protocolo familiar: um acordo consensual entre todos os membros da família proprietários da empresa – atuais ou potenciais -, estabelecido por escrito, que estabelece um guia de conduta da família relativamente à empresa. Condutas ou decisões que em determinadas ocasiões possam estar na origem de conflito – por exemplo, a incorporação de um familiar na empresa, terão um tratamento diferente se tiverem sido estudadas, discutidas e acordadas de modo formal e prévio em circunstâncias concretas do que se forem precisamente estas as circunstâncias que atuam como desencadeadoras do processo. Carlos Lucena elucidou o público sobre os instrumentos jurídicos de suporte à continuidade da empresa familiar e confessou que “ao longo da minha carreira já testemunhei casos impressionantes em empresas familiares por causa de invejas e outros sentimentos menores”.

Luís Rocha, da Energie, e Ricardo Silva, da Mercearia Tradicional Raúl & Costa, deram os seus testemunhos quanto às suas experiências enquanto empresários familiares. Dificuldades mas também benefícios em partilhar com o pai e os filhos o espaço profissional.

O Fórum “O Futuro da Economia passa pela continuidade das empresas familiares” foi dinamizado pelo Investemais, Gabinete de Promoção ao Investimento da Câmara Municipal da Póvoa de Varzim, em parceria com o grupo Vida Económica e que contou com a colaboração da Associação Empresarial da Póvoa de Varzim, da Associação Comércio ao Ar Livre e da Associação das Empresas Familiares.

Em Portugal, estima-se que entre 70 a 80% das empresas sejam de natureza familiar, e que contribuam para 60% do emprego e 50% do Produto Interno Bruto. A realização deste Fórum tornou-se, por isso, pertinente e persegue os objetivos da Câmara Municipal da Póvoa de Varzim: fomentar a economia local e apoiar o desenvolvimento das empresas poveiras.