Joana Leandro, autora do estudo, explorou
exaustivamente o desenvolvimento deste fenómeno na nossa cidade, sendo que a
principal fonte de informação centrou-se em dois Livros de Entrada de Expostos
na Roda da Póvoa de Varzim.

A investigadora revelou que a data de
criação da Roda na Póvoa é 15 de Janeiro de 1784 e que em 1839 funcionava na
Rua Nova (actual Rua do Visconde de Azevedo) e depois passou a estar instalada
na casa da esquina da Rua da Praça (actual Rua da Igreja) com a Rua dos Fiéis
de Deus. Em relação ao período em estudo (1792-1836), Joana Leandro registou
1573 crianças entradas na Roda sendo que nos primeiros três anos não chega a
ultrapassar as 10 crianças e em 1833 atingiu o auge com 455 expostos num só
ano.

No que se refere à variação sazonal, a Póvoa difere de todos
os outros estudos apresentando números mais elevados nos meses de Fevereiro,
Março e Maio e os valores mais baixos em Outubro, Novembro
e Dezembro. A investigadora justifica esta situação com a dinâmica económica da
Póvoa de Varzim por se tratar de uma vila piscatória e esta sazonalidade se
relacionar com a altura em que os homens partem para o mar e os rendimentos são
maiores.

Em relação ao vestuário, este é descrito
em quase todos os registos, ou seja, as crianças
surgem vestidas mas com indumentária precária e trazem muito
frequentemente objectos de carácter religioso (livros, cruzes e escapulários)
que demarcam a religiosidade da comunidade poveira.

Outra fonte importante para o estudo
realizado por Joana Leandro foram os escritos ou bilhetes que os expostos
traziam quando eram depositados na Roda. A informação que surge mais vezes
nestes documentos é o baptismo, o que demonstrava, uma vez mais, a forte
religiosidade da população e a sua preocupação com o destino das almas. Os
dados mais escassos e raros eram relativos ao dia do nascimento e à
proveniência dos enjeitados. Também é possível encontrar algumas
características físicas das crianças e identificar padrinhos e madrinhas dos
expostos. Quanto aos motivos do abandono, a pobreza é apontada como principal
factor: “perduarão que são misérias” e “põe-se na roda por grande necessidade”
denunciam uma difícil situação económica das famílias que entregam os filhos na
Roda. Em 1573 registos, só um refere amor nos apelos à rodeira, à administração
ou à ama, sendo que os principais pedidos são de zelo, cuidado e limpeza.

Joana Leandro analisou ainda os destinos
dos expostos da Póvoa de Varzim e verificou que alguns foram entregues a outra
Roda, nomeadamente, Porto, Barcelos e Vila do Conde, 445 amas ficaram com
crianças, somente quatro retornaram à família mas nunca a mãe teve iniciativa
de os ir buscar, houve três casos que ficaram com os padrinhos e alguns
faleceram.