Aurelino
Costa apresentou a nova obra “nesta casa que é uma casa de Cultura que procura
ser de substância, não de forma. Estamos simultaneamente numa Escola de Música
onde o jovem pianista que vamos ouvir se alicerçou como homem.”

Abrindo
a porta para conhecer a personagem central do livro, Marco, Aurelino Costa
questionou-se sobre se “pode um homem nascido em Pitões das Júnias, em inícios
da década de 20, fugir ao destino de guardador de rebanhos?” A resposta até
poderia ser facilmente dedutível, mas o carácter de Marco foi formado com base
numa série de factores que incluíram a passagem por um orfanato, a tropa de
elite e ainda a Guerra Colonial, sendo assim “impedido de alimentar gado e
sonhos.” O triângulo dinheiro – corrupção – violência está bem presente neste
livro, sendo o Vale do Ave o palco de múltiplos crimes que Marco, enquanto
detective privado, se propõem a deslindar. No entanto, Debaixo do Tapete encerra em si uma virtude, identificada por
Aurelino Costa, sendo ela “o facto de escancarar algumas das montras que
enfeitiçam incautos”.

Luís
Diamantino, Vereador do Pelouro da Cultura, marcou também presença no
lançamento do livro, oferecendo a sua interpretação. “Estamos a falar de um
livro que utiliza muito a gíria jurídica, algo que tem a ver com a profissão do
autor. E fala de um espaço ficcional que pode ser também a Póvoa de Varzim.
Para mim é mesmo, mas o autor não diz”, gracejou. “É o espaço do casino, do
Grande Hotel, de toda a ambiência que circundava as noites do Casino e que
caracterizaram os anos 70.” Na obra, o Vereador encontrou também um espaço de
crítica ao Portugal de hoje já que o autor “aproveita também para fazer a
análise de algumas situações, como o estado da Justiça, que se encontra sempre
adiada, e não é preciso ser jurista para se perceber isto. É a Justiça adiada
que vivemos neste país.” Outra crítica “incisiva e que vem a tempo” encontrada
por Luís Diamantino é dirigida aos orfanatos, supostamente “locais onde as
crianças deviam ser educadas e apoiadas mas que são tudo menos isso.”

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“Fiquei
a saber mais do que aquilo que escrevi, são interpretações. Eu limitei-me a
fazer um cozinhado e agora cada um com a sua vivência fará a sua
interpretação”, explicou o autor, Carlos Mateus, advogado de profissão. “Todos
nós temos algo escondido debaixo do tapete. Todos escondemos o passado, mas
mais tarde temos que lá mexer. São monstros prestes a devorar-nos que nos
provocam doenças e pavores.” E usando algumas analogias, como o esconder do
lixo debaixo do tapete, as chaves de casa e até o usar do tapete para
dissimular alçapões, Carlos Mateus foi juntando ingredientes ao cozinhado do
livro: o branqueamento, a corrupção, o esconder de segredos e até das chaves
para a resolução dos nossos problemas e que não usamos. Por isso, Debaixo do Tapete não é apenas o contar
de uma história. Para além das críticas identificadas por Luís Diamantino,
Carlos Mateus fez ver que “todos temos o nosso tapete, onde adiamos, fingimos
um bocado. Para fazer a limpeza há que fazer um esforço, calar o ego, saber
pedir perdão e ouvir a consciência.” E até na imoralidade e parte negativa de
Marco, o personagem central, o leitor se pode rever. “Leiam este livro e partam
para o encontro”, concluiu Carlos Mateus.

A apresentação,
que contou com um Auditório Municipal repleto de amigos e
companheiros de profissão do autor, terminou com um recital para piano, uma
junção de “duas artes muito importantes para a nossa Cultura – a literatura e a
música, na sua maior pureza”, como fez ver Luís Diamantino.

Partir ao nosso encontro e ver Debaixo do Tapete – o desafio da nova obra de Carlos Mateus

Raul Peixoto Costa, um jovem pianista promissor e
cujo talento já o levou a ganhar variadíssimos prémios e a participar em
projectos a nível europeu, sentou-se defronte de um Fazioli, que Rui Vieira
Nery já considerou “o Ferrari dos pianos”. Ao longo da sua actuação deliciou
todos os presentes com a sua mestria no dedilhar do teclado, arrancando da plateia
vários “Bravo” merecidos e voltando para o Encore
que todos pediram. Pelos dedos de Raul Peixoto Costa, a plateia viajou pela “Rapsódia
nº 1” de Johannes Brahms, pela obra “Sentimentale”, de Claude Bolling (aqui com
a participação de Catarina Costa na flauta), pelo “Estudo Op. 10 nº 8” de
Frédéric Chopin e pela “Sugestão Diabólica” de Sergei Prokofiev.