Moderada por José Carlos de Vasconcelos, reuniu Aida Gomes, Almeida Faria, Eduardo Lourenço, Fernando Pinto do Amaral, Maria Teresa Horta e Ricardo Menéndez Salmón.

Aida Gomes, participante estreante no evento, também se estreou nas intervenções e referiu que “o passado é sempre vitorioso” e “quem o renega anda às cegas”. Para a escritora angolana, “para perceber o mundo não há melhor mestre do que o tempo” e “o futuro só o é porque um dia foi passado”. Ainda a propósito da vivência do tempo, Aida Gomes referiu-se ao seu livro, Os Pretos de Pousaflores, que será apresentado amanhã, e ao modo como a escrita foi surgindo e as personagens foram criadas. “Não é o tempo que passa, nós é que passamos pelo tempo”, disse.

Para Almeida Faria, “o passado é a matéria-prima dos escritores em geral” e referiu, a título de exemplo, Balzac e Proust. Nietzsche também foi referenciado pelo antigo professor de Filosofia através da citação «não podemos desembaraçar-nos de Deus enquanto acreditarmos na gramática». Neste sentido, Almeida Faria afirmou que “é com a linguagem que criamos as nossas figuras, os nossos deuses, mas também é com a linguagem que os destruímos” e “é com a gramática que nós vivemos embora a gramática também deva ser invertida”.

Fernando Pinto do Amaral encarou a temporalidade como um “problema que nos assalta todos os dias” e uma questão que por vezes “chega a tornar-se obsessiva”. “Há um conflito no tempo com o que é intemporal, à escala humana, que vai permanecendo, e aquilo que se altera”, acrescentou. Fernando Pinto do Amaral interpretou o verso de Armando Silva Carvalho no sentido de que “quem mantém um presente baseado em algo que transporta consigo do passado, uma herança, deixa de ter o potencial de futuro, que temos todos de alimentar”. “O presente tem que trazer consigo uma semente do futuro porque se já estiver tudo lá, a vida é difícil de suportar”, assegurou, “o presente só o é se se transcender”.

Fernando Pinto do Amaral fez ainda uma distinção entre dimensão do tempo na área das Ciências e na área das Artes e Letras afirmando que “a Ciência avança sempre e rapidamente se torna obsoleta, o que não acontece nas Artes e Letras. E sobre a relação da literatura com a actualidade e realidade, disse que a “órbita da novidade permanente é aparentemente positiva mas é muito trituradora” e “não devemos cingir-nos à novidade pela novidade” porque “a literatura não corre tanto risco de impasses como outras artes”.

“Eu sou a minha própria palavra. A minha poesia é corpo, é inscrever-me. Escrever é o presente”. Estas foram algumas afirmações proferidas por Maria Teresa Horta que enumerou diversas ambições expressas por mulheres ao longo dos tempos que denunciam fragilidades da identidade feminina.

Ricardo Menéndez Salmón parafraseou Fernando Pessoa citando o verso “O poeta é um fingidor”, a que acrescentou a ideia de que a “literatura é um vasto cemitério”, logo “caminhamos entre mentirosos e mortos, tentando encontrar a verdade e a vida”. Para o escritor que é considerado uma das referências da nova literatura espanhola, “só ambições passadas permitem falar de um futuro plausível” porque elas “são o alimento do espírito dos escritores”. “Em literatura só há um tempo, passado”, advertiu.

Para Eduardo Lourenço, “a nossa relação com o tempo é uma questão central do pensamento filosófico e, até mesmo, existencial”, e revelou “nunca trato de outra coisa a não ser da relação humana com o tempo”. Recorrendo a uma expressão de Teixeira de Pascoaes “O futuro é a aurora do passado”, acrescentou que “tal como não podemos viver sem ar também não podemos viver sem um horizonte”.

Eduardo Lourenço referiu que “a temporalidade só existe em função de outro tempo” e “vivemos todos como se fossemos eternos, como seres de emoção, de paixão, vivemos de convicções mesmo sabendo que as coisas não são eternas” e é a “imprevisibilidade que nos define como Humanidade”. Encarando a História Universal como o Juízo Final, numa visão apocalíptica do tempo, referiu-se ao facto de se fazer História para dar vida, “História como um vício” e “uma ilusão que faz viver”, ao ponto que a “reinvenção do passado enquanto História tornou-se tão avassaladora que anulava presente e futuro”.

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