O
professor analisou os quatro meses (de Março a Julho de 1911) de conflito entre
os responsáveis político e religioso do concelho, baseando-se no que fora
publicado na imprensa local da época, com especial destaque para O Poveiro, semanário independente e
liberal que abordava destemidamente as ideias da Igreja, e O Comércio da Póvoa, jornal republicano.

Tomás
dos Santos, defensor acérrimo da República, tornou-se administrador oficial do
concelho a 27 de Fevereiro de 1911, altura em que acumulou a administração ao
ensino.

Manuel
Martins Gonçalves da Silva aceitava a República mas assumia o seu compromisso
com a Igreja. Era, em 1910, pároco de toda a vila pois só havia uma paróquia.

José
Ferreira referiu o primeiro ataque do administrador ao Prior aquando da
denúncia deste às autoridades nacionais. Tomás dos Santos enviou um telegrama
ao Ministro da Justiça acusando o pároco de não ter lido na igreja um documento
emitido pelos bispos portugueses para ser lido em todas as igrejas. Este
acontecimento levou a que fosse feito um auto de investigação à acção do prior
que convincente no esclarecimento das suas condutas, esclareceu-se junto do
Governador Civil que lhe concedeu o direito de continuar a exercer as suas
funções, ou seja, salvo-conduto. Apesar da vontade política em expulsar o
prior, nada comprometedor havia contra ele pois as acusações eram vagas.

No
início de Julho, surgiu novo episódio desta disputa: a casa do administrador
foi alvo de um ataque durante a noite e a ocorrência foi desde logo identificada
como resultado de uma ordem capitaneada pelo prior da Póvoa. No entanto, a
investida à casa do Tomás de Santos não deixara vestígios que permitissem
identificar o autor do desacato, pelo que se pode inferir que teria sido gente
republicana a querer incriminar o prior, informou José Ferreira.

Um ano
após a implantação da República, altura em que Tomás dos Santos já havia sido
substituído por Santos Graça, o ex-administrador faz um discurso de indignação
e violento ataque à Igreja. Assim, terminou este período de conflito
desnecessário, concluiu o orador.

“À quarta (h)à conversa” é dirigida ao público
sénior e apresenta, todos os meses, diferentes temas ligados à história local.
“A Monarquia do Norte na Póvoa de Varzim” por
Emília Nóvoa de Faria
será o tema do mês de Novembro.